Vem, mas vem com fantasia

Vera Rolim

 

Quando deparamos com alguém trazendo suas fantasias, ficamos surpreendidos com este desvelamento de sua subjetividade, mostrando o seu bem mais íntimo, o seu tesouro, que são expressões de Freud ao se referir à fantasia, em 1907.

O que chamamos de fantasia?  São transformações em imagens e cenas imaginárias dos conteúdos internos do sujeito, que implicam a realização disfarçada de seus desejos. Pois através do material da fantasia, o desejo vai se expressando deformadamente, devido à ação da censura e vai buscando satisfação. Na medida em que a fantasia é uma realização do desejo inconsciente, podemos entender por que ela é a propriedade mais íntima do sujeito. Talvez também por tudo isto, se fale de uma vergonha da própria fantasia. Alguns autores psicanalistas asseguram que observaram nos neuróticos este sentimento de vergonha da fantasia e que este é devido ao conteúdo desta dita fantasia, conteúdo este com temas perversos, que acaba entrando em contradição com os valores morais do indivíduo. Teremos aí um sujeito humanista com fantasias agressivas; mulheres liberadas com fantasias masoquistas; ecologistas com fantasias de agressão ao ambiente. São fantasias que causam sofrimento por entrarem em contradição com os ideais.

Por outro lado, é interessante pensar, acompanhados de Freud, que a fantasia substitui a atividade lúdica infantil. Como o brincar, a fantasia tem a função de produzir prazer, às vezes até partindo de situações angustiantes. Por exemplo, a ausência da mãe para a criança traz angústia e, muitas vezes, ela, criança, graças à sua atividade de brincar, acaba modificando o seu desconforto e conseguindo sentir prazer. Freud observa esta questão na brincadeira do seu neto, no Fort-Da (sumiu-achou), quando a mãe se afasta. A fantasia aparece como um meio de se obter prazer.

No psicodrama, estamos constantemente lidando com a fantasia na medida em que, na ação dramática, o contexto privilegiado é o do como se.
Mais ainda, Moreno vai trazer a fantasia ao se referir ao desenvolvimento das fases da matriz de identidade emocional da criança e fazer uma separação entre as fases do primeiro e as do segundo universo, através da famosa brecha entre fantasia e realidade. No primeiro universo, há predominância da fantasia e no segundo, com o fluir da espontaneidade e da criatividade, há uma circulação mais ampla entre a fantasia e a realidade.

A nossa proposta é aproveitar esses conhecimentos psicanalíticos e integrá-los à nossa prática psicodramática.

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Maio 2009

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