Medo, consumismo e o vizinho

Rosane Rodrigues

 

“Até aqui a globalização só mostrou sua natureza negativa. Essa natureza tende a ignorar as soberanias, as leis e os interesses locais da população.” (Bauman, Estadão, 27 de janeiro, 2008).

Nesta matéria, Zygmunt Bauman, sociólogo polonês, autor do Medo Líquido nos alerta para uma classe socioeconômica alta com pertencimento a um mundo virtual que não inclui o seu vizinho. Uma gente que não tem qualquer preocupação com sua comunidade local, apenas com sua segurança em relação a ela. E uma classe baixa, condenada a seus problemas locais e deixada para trás, aterrorizada por um crescente medo de um desastre iminente e difuso. Nem sequer podem cuidar destes problemas, pois seus medos se originam de fontes sociais sobre as quais não têm nenhum controle. Para agüentar o medo constante, consomem e consomem e consomem...

Esta matéria me impacta. Angustia-me. O que fazer para que ela não me imobilize? Pelo contrário, gere potência.

 

Divagação 1: Como nós psicodramatistas poderíamos vislumbrar nossos objetivos de inversão de papel, em nossa agulha imantada, apontando para a utopia moreniana da não exclusão? Como propor compartilhamento e co-construção num mundo tão individualizado, que tira partido deste medo para aumentar lucros, no mundo do cada um por si mesmo e da ignorância constante sobre nossa interdependência?

Acho que a denúncia é o primeiro passo, mas o alerta e o enfrentamento do medo, só poderão ser realizados em conjunto, com responsabilidade e real interesse neste vizinho do qual se depende. Temos visão privilegiada de grupos. Temos manejo técnico. Temos o sonho. E aí? O que estamos fazendo neste sentido?

Divagação 2: até novembro de 2007 foram descobertos 270, entre exoplanetas e candidatos a exoplanetas (planetas fora da órbita solar), um dos quais, muitíssimo parecido com a Terra. O Universo trabalha de maneira completamente interdependente, mantendo um certa harmonia, ainda que lidando com energias tão fortes.

Faço absoluta questão de não abrir mão desta angústia que me orienta a cada dia no meu trabalho com clientes, instituições, organizações e vida privada. De não abrir mão desta busca CONJUNTA. Desta utopia que me orienta e recorda da minha necessidade de ficar antenada na minha comunidade e me juntar a ela para atingir objetivos, que sozinha jamais poderão ser atingidos.

 

Divagação final: gostaria de ter inspirado alguém que faça parte da minha comunidade.

 

 

Janeiro 2008

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Rosane Rodrigues
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