Partilhando a tristeza

Rosane Rodrigues

 

 

Quatro dias depois do horrível acidente aéreo do dia 17 de julho eu e minha família viajamos de avião... pela TAM.

Minha filha de 8 anos, nunca havia pisado em um avião. Passou, como todo mundo, três dias assistindo, à exaustão na TV, aquelas todas, as imagens chocantes.

Claro que ela dentro do avião, ao dizer que não queria mais ir para nossa merecida viagem de férias e que não estava preparada para que partíssemos, protagonizava o sentimento da maioria de nós dentro da aeronave... Eu me recordava de um vôo para Caldas Novas, pela TAM, em que nós psicodramatistas fomos para um Congresso muito fértil em minha vida. Este também, logo depois daquele acidente horrível em São Paulo. Uma cena do Teatro de Reprise de um narrador neste congresso era a de um aeroporto morto e cheio de velas, às escuras. Como atriz, contracenei com o saudoso Arnaldo Liberman e uma platéia afetada e tocada pela morte.

Minha pequena Helena foi acalmada por uma mãe psicodramatista e por seu irmão de 18 anos, filho de psicodramatista, através da imaginação. Nós lhe contamos uma história que ia sendo inventada na medida em que nós todos íamos elaborando as nossas emoções. Foi um verdadeiro psicodrama, em situação “dramática”.

No alto, quando ela já estava calma e queria animadamente saber o final da história de vôos, sonhos conquistas e muita criatividade, eu pude respirar aliviada, com um leve choro contido em alguma parte de mim. Porém, no pouso fui jogada emocionalmente a uma identificação muda com o que aquelas pessoas sentiram. Aquelas pessoas, como nós, como minha filha, que estamos à mercê de gestões públicas e privadas absolutamente desligadas das pessoas. Nós, chamados usuários.

Estamos tristes, revoltados e precisamos falar disto para acharmos nossa potência de novo, como a pequena Helena achou...

 

Agosto 2007

 

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Rosane Rodrigues
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