Por que Vício de Sofrimento?

  Dirce Fátima Vieira

 

Vivemos a contemporaneidade. O homem influenciado pela ideologia capitalista do consumo e do acúmulo, tanto de bens materiais quanto de informações e de novidades tecnológicas, demonstra ficar cada vez mais ansioso e desconectado ao seu verdadeiro eixo existencial.

O estímulo à competição, ao poder, associado a uma cultura do espetáculo nos convida constante e incessantemente à exterioridade.

As mudanças freqüentes tanto nos núcleos familiares como no âmbito dos relacionamentos afetivo-sexuais e profissionais nos levam a um distanciamento de nossas verdadeiras necessidades. Nós nos tornamos pessoas que buscam a felicidade através do invólucro dourado vendido pela mídia.

Assim, distantes de nossos reais desejos, somos presas fáceis e nos tornamos seres vulneráveis e insatisfeitos.

Sem perceber, entramos numa espiral sem volta, ansiosos pelo preenchimento deste vazio, fatalmente nos aliamos como compulsivos à ideologia vigente. Carentes, vivendo em uma sociedade altamente dependente que, por sua vez, retro-alimenta todas as formas e tipos de dependências ? lícitas ou ilícitas ? tornamo-nos rígidos, cristalizados e solitários. Antítese do Homem Moreniano: criativo, espontâneo, conectado com o divino.

Como psicoterapeuta, imbuída do desejo de ajudar e aliviar o sofrimento dos meus clientes, desenvolvi ao longo dos anos uma escuta que possibilitou-me a interlocução com a parte sofredora do cliente sendo possível discriminar o sofrimento como vício da tonalidade afetiva do sofrimento existencial.

A idéia desta coluna é compartilhar e contribuir com olhares que possam sensibilizar os que sofrem, solitariamente, e os que se sentem sem recursos para auxiliar uma pessoa querida que padeça deste sofrer. Também desejo trocar experiências e saberes com você, colega psicoterapeuta.

Já conhecemos viciados em drogas, sexo, jogo, exercício físico, consumismo, comida (excesso e ausência), álcool e cigarro por exemplo.

E viciados em sofrimento?

Você sabe o que é?

Você conhece alguém que padece deste vício?

Você é viciado em sofrimento?

Vamos fazer desta coluna um espaço de interlocução?

Na próxima, conversaremos um pouco mais sobre estas questões.

P.S. Obrigada Sílvia, pelo convite.

 

Maio 2007

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Dirce Fátima Vieira
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