Ressonância

Rosane Rodrigues

 

A palavra ressonância entrou mesmo no vocabulário do psicólogo.
Mas afinal o que é ressonância? E no psicodrama, do que se trata?
Como se conjuga este verbo? Eu ressono? Eu ressôo? O que ressoou em mim é sempre uma coisa construtiva? Faça uma ressonância. E daí o grupo constrói cenas. Este grupo poderia sair gritando? Poderia roncar?
Bem, claro que tudo isto é uma grande brincadeira minha para pensar seriamente sobre o assunto.
Vai daí que resolvi fazer, com a liberdade que a coluna me dá, várias consultas.

Pergunto ao Aurélio. O que é ressonância?
Ele me responde: fenômeno pelo qual um corpo sonoro vibra ao ser atingido por vibrações produzidas por outro corpo. Transferência de energia de um sistema oscilante para outro quando a freqüência do primeiro coincide com uma das freqüências próprias do segundo.
Hum! Que interessante! Há uma vibração anterior necessária para a ressonância. Acho que no caso de uma direção de psicodrama seria a emoção de uma pessoa ou de várias e sua expressão. Ou não expressão...?

Mas não estou satisfeita. Quero mais. Pergunto ao Google, que me responde:
A ressonância foi descoberta por Galileu Galilei quando começou a pesquisar com pêndulos em 1602. Ela é semelhante ao eco. Este fenômeno tem aplicações importantes em todas as áreas da ciência, sempre que há a possibilidade de troca de energia entre sistemas oscilantes. Qualquer objeto material tem uma ou mais freqüências nas quais "gosta" de vibrar: são as freqüências naturais de vibração do objeto. Quando o objeto é "excitado" por algum agente externo em uma de suas freqüências naturais dá-se a ressonância: o objeto então vibra nessa freqüência com amplitude máxima.
Objetos inanimados, portanto, “gostam” de vibrar em certa freqüência! E isto é o seu natural! É incrível que sejamos tão parecidos com tudo que existe na natureza! Deliciosa sensação do humano não ser outra coisa e estar submetido às mesmas leis universais. Os objetos, portanto se relacionam. E nós com eles.Além disso, a explicação me remete ao natural de cada ser ou coisa. A nossa busca da espontaneidade natural. Aquela que é bloqueada pela sociedade.
- Conta a lenda que um regimento de Napoleão entrou marchando em uma ponte e a freqüência do compasso da marcha, por azar, coincidiu com a freqüência natural de vibração da ponte. Deu-se a ressonância, a ponte passou a oscilar com grande amplitude e desabou. A partir desse desastre os soldados passaram a quebrar o passo sempre que atravessam alguma ponte.
- Um estádio de futebol deve ser construído levando em conta a "vibração" das torcidas. Se todo mundo começar a pular e bater os pés pode surgir uma ressonância com as estruturas das arquibancadas e acontecer uma tragédia.
- O corpo de um instrumento musical, um violão, por exemplo, é uma caixa de ressonância. As vibrações da corda entram em ressonância com a estrutura da caixa de madeira que "amplifica" o som e acrescenta vários harmônicos, dando o timbre característico do instrumento. Sem o corpo, o som da corda seria fraco e insosso.

Fico sabendo que ressoar pode ser construtivo ou destrutivo. Claro que eu já sabia disto, mas é bom confirmar. E penso: que a minha reação à vibração de outrem pode ser uma corda desafinada com o tempo, que precisa de cuidados ou de uma troca. Ou que uma corda nova ainda não vibra em toda sua amplitude. Imagine se eu ampliar esta idéia para um grupo inteiro vibrando. Nossa!  Descubro também que é preciso um corpo para vibrar. Sem cuidado com ele, a vibração não se produz.

Minha última consulta, pergunto ao Larousse. Ele responde: Repercutir. Ruído confuso resultante do prolongamento ou reflexão de um som. Repercussão, reação.
Acho que repercussão era o sinônimo que eu procurava desde o início. Tem ligação também com o tornar público o que era somente individual. Que forte alívio nós psicodramatistas já vimos em grupos inteiros quando se publica o que faz sentido para muitos e com a verdade do grupo grudada nesta expressão.

Estou feliz com minhas consultas. Sei que quando uso, portanto o termo ressonância, estou procurando ligar dois vibrantes. Estou propondo que a própria relação entre vibrações mostre o caminho de uma intervenção. Quando me proponho a dirigir um psicodrama devo consultar, a cada momento, as vibrações que as pessoas fazem em mim, para dar mais voz ao grupo. Portanto, estou vibrando também. E estas vibrações podem ser arrebentações de um mar bravio ou aquele zunido que faz uma balança do parque, conduzida apenas por uma criança.

Estou agora ouvindo a Dança das Horas de Ponchielli, uma de minhas músicas prediletas, para comemorar minhas pequenas descobertas do dia-a-dia e vibrar com elas.

 

Setembro 2008

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Rosane Rodrigues
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