Soliloquiar

Anna Maria Knobel

 

Ao escrever pela segunda vez para esta coluna sinto que “posso surfar a vida, tendo o gosto de me equilibrar em águas móveis e nada insípidas.”

O que dizer acerca deste produto de minha imaginação metaforizante ? (Mezan, R. Escrever a clínica . São Paulo, Casa do Psicólogo, 1998. p. 268).

Vejamos como esse repertório de imagens opera na escrita deste texto.

Primeiro aparece a possibilidade de surfar a vida, indicando que, enquanto autora, encaro o Site do DPSedes e esta coluna como um espaço de liberdade, no qual não apenas conceitos teórico/técnicos podem ser veiculados mas também outras experiências. Continuo dizendo que gosto de me equilibrar em águas móveis e nada insípidas. Neste contraponto está implícita a noção de um certo jogo de forças que pode levar à instabilidade e à perda do prazer. O movimento e os diferentes gostos (da água nada insípida) podem se conectar às múltiplas visões de mundo, aos inúmeros valores e ideologias dos psicodramatistas deste Departamento .

Vemos assim que esta frase inicial, aparentemente inocente e escrita sem muito pensar, evoca sucessivas camadas de sentidos e de sensibilidades da/na autora e, quem sabe, em cada leitor.

Trata-se de um produto histórico-cultural, que se inscreve em um espaço/tempo. Contem também tons do imaginário, sendo desta forma absolutamente singular e mágica. Agrega a conserva e o novo, estabelece ligações entre o já sabido e nem sequer pensado, realizando tudo isso de forma lúdica.

Assim se desenha o ofício do psicodramatista escritor ao percorrer e aproveitar suas experiências de vida, ao confiar em um certo saber e ao se entregar à possibilidade de ser sustentado pelos fluxos da experiência compartilhada.

Ao fim e ao cabo há que dar conta do equilíbrio instável, da reflexão e da persistência necessários para seguir...

 

 

Junho 2007

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Anna Maria Knobel
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