EDITORIAL

Editorial


Letter from the editor


 

        É com muito prazer que apresentamos o segundo número de trama, Revista de Psicossomática Psicanalítica, do Departamento de Psicossomática Psicanalítica do Instituto Sedes Sapientiae.

           Primeiramente, gostaríamos de fazer uma consideração. Quando iniciamos o planejamento da revista e abrimos o prazo de entrega de artigos, não imaginávamos que em 2020, no decorrer de sua elaboração, estaríamos imersos em uma pandemia que nos mobilizaria tão profundamente em diversas áreas de nossa existência.

            Se soubéssemos o que enfrentaríamos, teríamos organizado um número que contemplasse as diversas questões e reflexões que um evento de tal magnitude suscita em profissionais envolvidos com a teoria e prática da psicossomática psicanalítica.

            Por outro lado, acreditamos que a produção e a leitura de artigos, o pensar e o fazer criativo que tecem os fios da trama propostos possam dar um suporte à angústia que emerge deste momento difícil e desafiador em que estamos capturados.

            Por quais caminhos, então, tecemos a trama do nosso enredo polissêmico?

            Temos um eixo comum que percorre alguns artigos: a desorganização psicossomática e sua consequente dificuldade de simbolização, articuladas a uma experiência teórica clínica.

            Tomemos como ponto de partida o artigo de Diana Tabacof, em que explana a importância do remanejamento do enquadre e da técnica psicanalítica frente a pacientes com desorganização psicossomática, concebendo o trabalho do psicanalista no seu duplo sentido, o de para-excitação e o de libidinização. Já Marilia Aisenstein apresenta o relato clínico de um paciente não alérgico cujo funcionamento psíquico se aproxima dos estados-limite com relações objetais tipicamente "alérgicas".

            Dando continuidade ao trajeto partilhado, Cristiane Curi Abud problematiza o tema da simbolização. Por meio da análise de um caso, nos convoca a pensar como um dispositivo grupal tem a potencialidade de favorecer uma maior capacidade de simbolização em pacientes somatizadores que não encontram uma justificativa orgânica. Por sua vez, Raul França Filho reflete sobre a ocorrência de casos-limite na adolescência, fazendo uma articulação teórico-clínica com André Green e outros autores.

            Teoria e construção são fios centrais de outros tecidos de nossa trama. Ana Luisa Cordeiro traça um paralelo entre as ideias de Pierre Marty e Donald Wood Winnicott, percorrendo os pontos de intersecção encontrados clínica e teoricamente nas respectivas obras. Eloisa Tavares de Lacerda, no que lhe concerne, articula a dinâmica de uma forma de construção em análise, tomando como parâmetro o que se encena na clínica com bebês através da linguagem corporal, sensível e rítmica, criando narrativas e afetos que dão lugar ao nascimento de um sujeito.

            Podemos vislumbrar a importância da escuta em dois artigos baseados em diferentes instituições. Aline Carla da Rocha Soares Bento, em um diálogo multidisciplinar, apresenta intervenções psicológicas realizadas com crianças e adolescentes em situações de acolhimento com comportamentos agressivos junto a profissionais no contexto de políticas públicas de assistência social. Por sua vez, Lara Giacometti Herrera reflete sobre o enodamento do desejo materno na vida do sujeito anoréxico e traça possíveis paralelos entre a função paterna inoperante e a história desse mesmo sujeito.  

            Na interface com a medicina, Luiz Fernando Bertolucci finaliza nosso enredo de artigos, problematizando, em seu texto, o surgimento espontâneo do relato de memórias biográficas durante a terapia manual (Toque de Tensegridade). Sugere, ainda, que tal procedimento tem seu papel como auxiliar na integração psicossomática.

            Na seção Ágora, alguns de nossos colegas do Departamento de Psicossomática Psicanalítica compartilharam uma experiência significativa, ocorrida em janeiro de 2020, no IPSO - Institut de Psychosomatique Pierre Marty e no Institut de Psychodynamique du Travail, fundado por Christophe Dejours. Esperamos que apreciem esse relato, que foi enriquecedor e gratificante para todos nós, já que nosso curso de Especialização em Psicossomática Psicanalítica tem como referencial teórico a Escola de Paris.

            Na seção Resenhas, dois livros instigantes, corajosos e atuais são apresentados para futuras interlocuções. Vera Iaconelli, em seu livro Mal-estar na maternidade: do infanticídio à função materna, discute eixos de construção da função materna, abrangendo desde o discurso social até o lugar de sujeito da mulher diante da maternidade. Por sua vez, Christian Dunker e Cláudio Thebas, em seu livro O palhaço e o psicanalista: como escutar os outros pode transformar vidas, refletem sobre o valor da escuta e o quanto é necessário aprender a arte de escutar para que encontros originais, genuínos e transformadores possam ocorrer em nossa vida cotidiana.

            Encerrando nossa trama polissêmica, na seção Monografia, escrita por alunos do curso de Especialização em Psicossomática Psicanalítica, Cristina Satie Hirashima nos convida a pensar como a presença viva e sensível do terapeuta é de fundamental importância para que se favoreça a recuperação física e mental de um paciente com quadro álgico severo e empobrecimento simbólico.

            Desejamos uma boa leitura a todos!

 

 

 

 

Equipe Editorial

trama, Revista de Psicossomática Psicanalítica


 


 


voltar ao topo voltar ao sumário
ano - Nº 2 - 2020
publicação: 28-11-2020
voltar ao sumário
Copyright, 2019. trama, Revista de Psicossomática Psicanalítica