ARTETERAPIA

Entrevista dos Profs. Selma Ciornai a Walter Sebastião, publicada no caderno Pensar, Jornal Estado de Minas, 2005

 

 

 

1) Podia falar dos títulos e dos objetivos da coleção “Percursos em Arteterapia”?

 

Bem, iniciei em 1989 um  curso de extensão em Arteterapia no Instituto Sedes Sapientiae, que em 1990, a pedido dos alunos, se transformou no 1º curso de Especialização em Arteterapia a ser dado em uma instituição acadêmica em São Paulo.   Em 1989, ao comemorarmos 10 anos de existência, surgiu a idéia desta publicação, que  já celebra 15 anos de nossa existência!  

 

Os objetivos  desta série  foram então, por um lado , fazer um registro deste nosso percurso , ou melhor dizendo, dos nossos "vários" percursos nestes 15 anos, pois a partir do eixo e da fundamentação  teórica comum que nos identifica e caracteriza, cada profissional formado utilizou suas experiências, tanto  prévias como atuais, assim como sua criatividade,  no desenvolvimento de uma forma própria de trabalho, freqüentemente pioneira, em seu campo específico de atuação.

 

A série "Percursos em Arteterapia " traz de forma didática tanto a fundamentação terapêutica e teórica básica  que dá eixo e norteia a formação que damos (a parte sobre "Arteterapia Gestáltica"  que consta do 1º volume da série) , como também suas aplicações em áreas diversas -- todas teoricamente fundamentadas  ao mesmo tempo que  ilustradas através de casos e exemplos práticos. O 1º volume,  é constituído por  3 partes:    "Arteterapia Gestáltica, Arte Psicoterapia e Supervisão em Arteterapia" ; o 2º volume por "Ateliê Terapêutico, Arteterapia no Trabalho Comunitário, Integrando Trabalhos Plásticos com Linguagens Expressivas  e Arteterapia e História da Arte", e o 3º por "Arteterapia no Contexto Educacional, Psicopedagógico e de Saúde "

Por outro lado, ao ler estes textos percebe-se claramente tanto a formação comum do qual derivam, quanto a diversidade dos trabalhos e estilos apresentados. Por isso no prefácio comparei a série à uma árvore, que tendo raízes e um tronco sólido e consistente comum, ramifica-se em várias direções, gerando novos frutos e folhagens. Neste sentido, um  outro objetivo que  procuramos deixar claro é o da necessidade de uma formação consistente na área, pois evidentemente para ser arteterapeuta não basta ser artista e gostar de trabalhar com pessoas ou ser psicólogo e gostar de arte. Arteterapia é uma área transdisciplinar que exige uma formação série, consistente e específica.  

2) Oque é, afinal, arteterapia? Como a arte pode funcionar como terapia? É um conceito diferente de terapía ocupacional?

Arteterapia é a utilização de linguagens artísticas  (predominantemente plásticas), de símbolos, metáforas e, de forma geral,  da criatividade, em processos terapêuticos. A arte é uma expressão humana  desde a Idade da Pedra, e como tal é uma necessidade  tanto individual como social. Porém, funciona como terapia  quando utilizada em um enquadre terapêutico. Por trabalhar com o criativo, lida com o novo, e processos de criação artísticos, por envolverem os sentidos, o "fazer", são em geral muito revitalizantes e às vezes também relaxantes.  Proporcionam a possibilidade de ver "o velho "  com "um novo olhar" , de reconstruir de formas novas velhas percepções. Além disso, ao contrário dos sonhos, os trabalhos de arte  são sempre surpreendentes para  a pessoa que cria, que pode encontrar no trabalho que criou  uma fonte de reflexão e auto-conhecimento.  E neste sentido a arteterapia facilita o encontro da pessoa com seu eu mais autêntico.

Difere da terapia ocupacional  em princípio pelo próprio nome, pois a arteterapia não tem por intenção "ocupar" ,  mas  proporcionar experiências de criação, auto-conhecimento e crescimento pessoal . Acho que não só as atividades propostas diferem  como também a própria atuação do terapeuta. No entanto, ouço dizer que há correntes mais modernas em terapia ocupacional que ampliam seus objetivos nesta direção.

3) Como surgiu a arteterapia? 

Apesar de que o interesse pelos trabalhos de arte de pacientes psiquiátricos como elemento diagnóstico já  vinha acontecendo na Europa, a Arteterapia surge como profissão nos EUA i.e., logo após a segunda  guerra mundial, através do trabalho de Margareth  Naumburg. Inicialmente professora de arte em escolas de vanguarda  em Nova York , Naumburg, ao perceber como a arte ajudava as crianças e adolescentes em seus processos de desenvolvimento pessoal, interessou-se   durante a década de 30 e 40 em explorar sua eficácia também no campo da psicoterapia e da psiquiatria, publicando sua primeira pesquisa em 1947. E desde então, este campo se desenvolveu e ramificou em várias linhas e escolas.

 

4) Existe doenças para os quais a arte é especialmente recomendada?

Bem, como já disse a arteterapia não atua só em "doenças", atua também em trabalhos de cunho preventivo, atualmente chamados de "promoção de saúde" , e na facilitação de dificuldades na vida que todos experienciam, como conflitos pessoais ou familiares, tristezas, medos, etc. Em relação à doenças, eu destacaria como especialmente favorecidas aquelas em que  a expressão e a comunicação verbal estão mais comprometidas, seja por um comprometimento cognitivo (como em alguns distúrbios psiquiátricos) , seja devido ao fato de que a linguagem verbal às vezes é muito crua e dura para falar de experiências mais traumáticas e dolorosas;  a imagética, a linguagem simbólica e metafórica , permitem expressar sentimentos e sensações de um outro jeito, por uma outra via. Um exemplo pungente é a obra de Frida Kahlo.  

5) E existem artes particularmente "uteis" como terapia?

Não, mas acho que cada linguagem artística  tem suas características, que evidentemente irá facilitar mais certos processos. Por exemplo, nas artes plásticas, cria-se um "trabalho", que pode servir de fonte de reflexão para a pessoa ,   e, também, atuar como objeto facilitador de contato e comunicação com o terapeuta e outros participantes de um grupo  de forma menos "ameaçadora" do que uma dança,  uma performance ou um cantar individual. A música por outro lado, quando cantada junto, cria instantaneamente um sentimento de comunhão e harmonia grupal, que,  em um trabalho de artes plásticas só se alcança após um processo mais longo de criação grupal.

6) Qual é o limite para a arteterapia? Pergunto porque há artistas que parecem se entregar a "doença". Ou, para o artista, a arte nada tem de terapia? 

Não sei se entendi direito a pergunta.   Muitas pessoas criam, mas isso não é "arteterapia ". A produção de um artista, a