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    JORNAL DIGITAL DOS MEMBROS, ALUNOS E EX-ALUNOS
    37 Abril 2016  
 
 
NOTÍCIAS DO DEPARTAMENTO

UMA BRINCADEIRA PSICANALÍTICA EM TORNO DO CARNAVAL


Ana Karlik

Camila Brasiliano

Ludmila Frateschi

Márcio de Assis

Rodrigo Veinert

Kleber Araujo


 

No dia 04 de fevereiro aconteceu o Grito de Carnaval Unidos do Inconsciente, na Praça Irmãos Karmann, próxima ao Instituto Sedes Sapientiae. Ele foi idealizado e produzido por nós, um grupo de seis amigos cuja peculiaridade é ser formado por psicanalistas, músicos e psicanalistas-músicos. Além disso, os psicanalistas estão em formação no Departamento de Psicanálise.

 

Começou numa brincadeira de bar e foi ganhando corpo: em algumas reuniões, compusemos letras que parodiam as marchinhas tradicionais, utilizando conceitos da psicanálise, além de um hino original no mesmo espírito. Lemos também um manifesto, replicado abaixo, em que tentamos explicitar o que nos moveu. Para nós, o humor presente nos blocos de carnaval, a ocupação festiva do espaço público e a celebração da diversidade são instrumentos de promoção de saúde mental.

 

Logo de início, tivemos a adesão de colegas psicanalistas tanto da formação quanto de outros espaços de trabalho. Estimulamos as pessoas a se fantasiarem, também inspiradas na psicanálise (havia gente de superego, seio bom e seio mau, Pulsão, Homem dos Lobos Mau) e oferecemos máscaras de Freud, Klein e Lacan para quem quisesse. No dia do festejo, compareceram diversas pessoas interessadas pelo carnaval e pela psicanálise, e que viram nesse ato a implicação de psicanalistas com seu tempo, com a cultura e com a cidade. Fomos surpreendidos pela grande repercussão do Grito: nossas letras foram muito replicadas nas redes sociais, recebemos muitos comentários elogiosos e chegamos a dar entrevistas para canais da grande mídia. Decidimos então inaugurar uma tradição: o Unidos do Inconsciente não terá apenas existido em 2016, mas desde 2016. Em 2017, estaremos nas ruas novamente, como bloco oficializado na programação do carnaval. Nossa ideia é diversificar nossas marchinhas, realizando para isso um concurso de novas paródias psicanalíticas.

 

UNIDOS DO INCONSCIENTE - MANIFESTO

 

O carnaval e a psicanálise têm em comum serem tentativas de libertar o amor recalcado.

 

O Unidos do Inconsciente é um grito de amor liberto. É investido de libido, uma energia, tomada como grandeza quantitativa - embora não mensurável - relacionada com tudo aquilo que pode ser abrangido pela palavra 'amor'. Amor que é cantado pelos poetas, amor sexual. Mas não separamos disso o que partilha igualmente o nome de amor, de um lado o amor a si mesmo, do outro o amor aos pais e aos filhos, a amizade e o amor aos seres humanos em geral, e também a dedicação a objetos concretos e a ideias abstratas.  Este bloco nasceu do nosso amor, pela rua, pelo samba, pela psicanálise, uns pelos outros e pelo humor.

 

O Unidos do Inconsciente é um devaneio, uma fantasia, um sonho. O sonho não consegue expressar de forma alguma a alternativa 'ou-ou'; ele costuma incluir os membros dessa alternativa num só contexto, como se tivessem direitos iguais. Altamente notável é o comportamento do sonho em relação à categoria da oposição e da contradição. Essa categoria é simplesmente negligenciada; o 'não' parece não existir para o sonho.

 

Nos sonhos envergamos a semelhança com aquele homem mais universal, verdadeiro e eterno que habita na escuridão da noite primordial.

 

No bloco, coube tudo, couberam todos, nossas diferenças e nossas semelhanças. Couberam todos os nossos desejos e sentimentos, condensados, deslocados e transfigurados nessa brincadeira de uma noite. Uma flor não nos parece menos esplendorosa se suas pétalas só estiverem viçosas durante uma noite.

 

Afinal, foi carnaval, e como Freud, não permitimos que nenhuma reflexão filosófica nos tire a alegria das coisas simples da vida. Pensamos, mas assumimos existir também onde não pensamos, onde pulsamos, onde brincamos, onde sonhamos.

 

Sem recalque e sem castração, meu amor. Hoje é carnaval.

 

 

UNIDOS DO INCONSCIENTE - PARÓDIAS

 

 

Mamãe eu quero

Mamãe eu quero

Mamãe eu quero

Mamãe eu quero te amar

Papai não deixa

Papai não deixa

E ameaça o meu falo castrar

 

Sonha menino do meu coração

Condensa e desloca pra não ter censura não

Queria minha mãe, mas não posso ir pra cama

Maldita lei do incesto sublimar se não vem cana

 

Dora (Aurora)

Se você não fosse histérica

Ôooo, ô Dora

Veja só que bom que era

Ôooo, ô Dora

Tão linda, indiferente, não aguenta o amor

Seduz todos os homens nesses dias de calor

Um K antes do nome, você teria agora

Ôooo, ô Dora

 

Lacan não é fácil não (Cachaça é água)

Se você pensa que Lacan é fácil

Jean Jacques não é fácil não

Tem que sacar de imaginário, função paterna e pulsão

A gente tenta sublimar tudo na vida

Dor, amor, tesão

Só não dá pra sublimar o preço alto da sessão

Pode me faltar o amor e disso eu até acho graça

Só não quero que me falte

Pulsão de vida nessa praça

 

 

Sem calote (marcha do remador)

Se o paciente não pagar, olê, olê, olá

Eu vou cobrar (2x)

Venha, venha, venha, por favor

Mas se não vier, mesmo valor

E se na sessão você faltar, mesmo assim eu vou cobrar

 

Aliviar os males (Mulata Bossa Nova)

Maria Rita Kehl

Contardo Caligaris

Pi-si-Ca-Nálise

Lê lê lê lê lê lê lê lê

Pra aliviar os males

 

Sintoma revela (O teu cabelo não nega)

O teu sintoma revela uma marca

Porque essa marca é da dor

Mas como a dor expõe uma falta

A falta remete ao horror

 

Venha! (Ô abre alas)

Ô Abre a porta, vem se analisar

Ô Abre a porta, vem se analisar

Sou todo ouvidos, pode associar

Sou todo ouvidos, pode associar!

 

Meu analista (Doutor, eu não me engano)

Doutor, eu não me engano

Meu analista é freudiano

Eu não sabia mais o que falar

Mandei meu analista

Parar de interpretar

Ah, Doutor eu não me engano

Meu analista é freudiano

 

Unidos do Inconsciente - Hino

Sexualidade é desde a infância

Mas agora a fase é genital

Só se fala do falo

Fica o seio bom, sai o seio mal

Porque hoje é carnaval

 

Esse bloco é suficientemente bom

Pra você gozar no final

Sem recalque e sem castração, meu amor

Porque hoje é carnaval

 

Ah, mainha! Deixa eu gostar de você

Ah, mainha, sem você não vou viver

Faz um holding pr'eu crescer!




 
 
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