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    JORNAL DIGITAL DOS MEMBROS, ALUNOS E EX-ALUNOS
    39 Setembro 2016  
 
 
NOTÍCIAS DO CAMPO PSICANALÍTICO

RESUMO DA ÚLTIMA REUNIÃO DO MOVIMENTO ARTICULAÇÃO DAS
ENTIDADES PSICANALÍTICAS BRASILEIRAS


ANA MARIA SIGAL
CIDA AIDAR [1]



A última reunião da Articulação aconteceu no dia 04 de abril. Estavam presentes todas as instituições que costumam participar das reuniões e trabalhamos basicamente dois temas: 1. O livro publicado, nossa relação com a editora Pearson e o próximo livro que publicaremos; 2. Os diversos cursos de “formação de analistas” que circulam sem parar na rede midiática: o que fazer em relação a isso?

1. Conversamos sobre quais medidas tomaremos em relação ao livro publicado pelo movimento e editado pela Casa do Psicólogo, Ofício de psicanalista, formação vs regulamentação (2009). Como sabemos, a editora foi vendida - para a Pearson - e faz muito tempo que não conseguimos entrar em contato com os novos representantes, motivo pelo qual não temos tido acesso ao livro.

Como ultimamente a editora publicou uma lista de livros e preços, resolvemos entrar em contato novamente com o responsável para obtermos informações sobre estoque e distribuição, tarefa que ficou a cargo de Sonia Alberti (do Fórum das Escolas Lacanianas). Em nossa reunião anterior começamos a conversar sobre a necessidade de realização de uma nova publicação coletiva, o que nos permitirá atualizar as questões importantes que discutimos em nossas instituições e em nossos encontros. Decidiu-se fazer uma edição em papel e outra eBook. A proposta para esse livro tem duas vertentes: reunir todos os trabalhos que os diversos participantes e instituições tenham apresentado em diferentes oportunidades e também possibilitar que cada um proponha temas sobre os quais queira trabalhar. Formou-se uma comissão com Ana Maria Sigal, Barbara Conte e Samyra Assad, para receber os trabalhos, fazer uma primeira leitura e agrupá-los por temas de interesse. Todos os participantes do movimento terão acesso aos textos encaminhados.

2. Retomamos um tema que nos preocupa, já discutido em várias reuniões: o que fazer em relação aos textos e cursos que circulam na rede prometendo “formação psicanalítica” sob formas contrárias aos princípios da Psicanálise. É notório como estas instituições vão incorporando as críticas que circulam no meio e vão se refazendo de modo a esconder cada vez mais suas distorções. Nossa complicação decorre do fato de que, como nosso movimento defende a não regulamentação, não desejamos ditar regras sobre o que é uma formação psicanalítica correta, nem quais são os critérios aceitáveis de formação; qualquer proposição seria um início de regulamentação. Foi lembrado que, no passado, a IPA (Sociedade Psicanalítica Internacional) se outorgava o direito de regulamentar o que seria uma “formação correta”. Isto provocou cisões políticas e a criação de novas instituições de psicanálise, o que foi fragmentando o campo. A saída de Lacan teve a ver com isto, assim como as rupturas do próprio grupo lacaniano se produziram por razões semelhantes, criando-se por exemplo a APF, o Quarto grupo e muitas outras. O próprio grupo do Sedes era visto como um Curso de psicoterapia de orientação psicanalítica e não como um Curso de formação de psicanalistas. A maioria das instituições presentes hoje na Articulação não teria legitimidade para a Internacional e foi necessária uma longa luta para admitir que nenhuma instituição é a dona da verdade no que se refere aos modelos diversos de formação. A partir das colocações feitas, levantou-se a questão sobre se o Movimento deve responder a isso e, em caso afirmativo, de que forma.

Aqui surgiram duas ideias: uma seria responder, denunciando as distorções éticas e teóricas feitas por esses chamados cursos de formação; outra seria ampliarmos nossa comunicação na rede, de forma propositiva e não reativa. Fazemos isso como movimento? Como propor algo se não podemos afirmar nada que implique regulação? Como a Articulação poderia ter mais visibilidade em relação ao trabalho que realiza? Importante ressaltar que cada instituição faz seu trabalho no sentido de afirmar a ética da psicanálise em suas práticas, e aqui podemos afirmar que temos, sim, concordância em relação a pressupostos básicos, como a questão da análise leiga, por exemplo.

Alguém, livre associando, pensa se poderíamos outorgar algo como um ISO, um selo de qualidade... proposta que causou grande alvoroço, argumentações e contra argumentações que tomaram o restante da reunião. Foi uma discussão muito interessante, cada participante retomando tanto elementos intrínsecos à própria Psicanálise quanto ao Movimento.... Lembramos uma proposta de regulação, utilizada na Bélgica, que cria um comitê que, sem ser do Estado, outorga selo de qualidade.

Não chegamos a uma conclusão, principalmente porque nos deparamos com o argumento contundente e, ao mesmo tempo, eixo organizador do Movimento: qualquer proposta vai positivar algo e imediatamente regulamentar. Aí paramos... De toda forma, a questão nos preocupa muito... É possível sermos afirmativos, propositivos, sem regulamentar? Por enquanto realizamos esse trabalho nas instituições a que pertencemos, na transmissão, na formação de opinião, na divulgação em nossos sites e na inclusão de mesas que discutem esta questão nos encontros de psicanálise, alternativa que já vem se realizando com certa frequência nos eventos das instituições que formam parte da Articulação. Já no final da reunião também comentou-se, sem aprofundar a questão, que o momento político de crescimento do poder dos evangélicos na Câmara coloca novamente questões de alto risco. Ana Maria Sigal comunicou que foi convidada a levar seu pensamento sobre a Articulação ao Congresso da Febrapsi em fins de novembro do ano passado. O trabalho apresentado nesta oportunidade foi muito bem acolhido e será lido em Entretantos II: 30 anos de psicanálise e política, a fim de abordar a política interinstitucional, as questões do campo psicanalítico e a regulamentação. Esperamos que este seja um modo de efetivar uma melhor discussão dentro do Departamento, possibilitando assim escutar a opinião dos diversos membros e somar subsídios para levarmos às reuniões do Movimento. Até o momento já promovemos quatro encontros sobre este tema no Departamento e temos convidado membros da Articulação a falarem em nossa associação de psicanalistas. A próxima reunião do Movimento Articulação ocorrerá em 01/10, sob a organização da Letra Freudiana.




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[1] Psicanalistas, membros do Departamento de Psicanálise do Instituto Sedes Sapientiae, do qual são representantes no Movimento Articulação.




 
 
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