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    JORNAL DIGITAL DOS MEMBROS, ALUNOS E EX-ALUNOS
    40 Novembro 2016  
 
 
NOTÍCIAS DO DEPARTAMENTO

COMENTÁRIO-REPORTAGEM SOBRE A MESA 1B
– ENTRETANTOS II – PSICANÁLISE E POLÍTICA


MARCIA RAMOS [1]



Política, psicanálise e arranjos coletivos - O desafio da sustentação da palavra entre pares: entre política e psicanálise – Grupo Espaço de Trabalho: Inquietações Da Clínica Cotidiana - Autor: Tiago Corbisier Matheus.

Psicanálise, trabalho e política – Projeto Laborar – Grupo de Estudos e Pesquisas em Psicanálise e Contemporaneidade. Autoras: Cleide Monteiro e Debora Felgueiras

Psicanálise e política: descrença nas instituições - Grupo de Trabalho e Pesquisa - Saúde Mental, suas Instituições e Interfaces. Autoras: Cristina Herrera, Denise Cardellini, Eva Wongtschovski, Marina Bialer, Milena Narchi, Mira Wajntal, Mirian Rejani, Paulina Rocha, Rita Cardeal e Silvia Ribes.

As apresentações dos três trabalhos acima citados na mesa 1B versaram sobre três âmbitos institucionais muito diversos entre si, como as organizações do mundo do trabalho, instituições públicas de saúde e o Sedes, seu Departamento de Psicanálise e seus integrantes.

Tiago Corbisier Matheus nos falou sobre o dispositivo grupal que se instala na discussão entre pares, entre a horizontalidade da palavra e a transversalidade do funcionamento institucional, ao qual refere uma utopia da sustentação desse diálogo. Trabalhou com ideias de Freud e de Rancière quanto à política da igualdade e das diferenças, e de Ricoeur sobre o reconhecimento, para subsidiar sua instigante leitura do que se produz nos encontros nomeados de Inquietações da Clínica Cotidiana.

Debora Felgueiras nos falou sobre as formas cada vez mais sutis de exploração nas relações de trabalho da sociedade contemporânea e suas implicações para a saúde mental dos trabalhadores; sobre como é acionada uma inteligência inventiva dos trabalhadores em apropriar-se do modus operandis, que gera formas de enfrentamento às tentativas de domínio e controle a que são submetidos. Refletiu ainda sobre as estratégias defensivas coletivas e individuais, e os riscos de suas insuficiências frente às novas formas de gestão no neoliberalismo.

O grupo de trabalho e pesquisa em Saúde Mental, sua instituições e interfaces, através da apresentação de Cristina Herrera, partiu de uma vinheta de atendimento clínico, “o caso dos 16 assassinatos”, para abordar ética e política da psicanálise praticada dentro de uma instituição pública, refletindo sobre as condições e possibilidades para exercê-la. Abordou a transversalidade do instituído e seu peso nos manejos transferenciais psicanalíticos na cena institucional; a psicanálise na clínica ampliada e interdisciplinar. Apontou que, apesar da descrença nas instituições, mantêm-se as apostas dos psicanalistas ao "trabalhar na abertura de brechas" quando o fazer psicanalítico acontece em contexto adverso.

Após estas mini resenhas, discorro sobre algumas das falas que se seguiram, ao abrir-se o debate para as contribuições de todos os presentes na sala. Faço, desde já, um convite à leitura dos textos originais e me desculpo por não contemplar a todos que falaram.

Algumas pessoas foram fazendo ligações com os processos de trabalho que vivenciam, numa transposição daquilo que foi apresentado como característico de ambientes empresariais; falaram das exigências de produtividade, metas e papeladas a se preencher, da falta de espaço de trocas, e de não participar nas tomadas de decisão da gestão.

Debora comentou ser comum que um modelo hegemônico seja replicado em outros setores, assim as práticas do mundo organizacional industrial passam a ser usadas nas organizações de saúde.

Pediram a Tiago uma extensão de sua fala sobre os aspectos filosóficos com que teceu a fundamentação de sua reflexão sobre os encontros do Inquietações.

Um questionamento foi dirigido à mesa, mais especificamente sobre o Projeto Laborar, quanto ao eventual viés que se poderia criar se for montado um grupo somente com trabalhadores desempregados. A resposta foi a de que se acredita que as problemáticas serão as mesmas, sejam empregados ou desempregados.

Referindo-se à vinheta de caso clínico do trabalho apresentado por Cristina, em nome de seu grupo, as falas de dois analistas sugeriram que, no caso abordado, o tumor cerebral, que o paciente definia como causador de seu sofrimento, pudesse se tratar da materialidade de sua culpa, com a qual não pôde se haver, e ser esse um ponto de entrada para o tratamento.

Cristina argumentou que há um posicionamento ético e político em considerar a impossibilidade de escuta analítica a alguém que não quer se implicar, visto que se refere a um homem que afirma, no discurso e em papel, que já foi julgado e inocentado de 16 assassinatos, cometidos durante suas tarefas de policial. Destaca quão mais difícil fica a escuta psicanalítica sob os atravessamentos institucionais onde a priori ele 'deveria' ser atendido na instituição de saúde, e sob um judiciário que assinou sua "inocência".

Ficam dois modos divergentes de possibilidades de condução do caso a se pensar.

Outro comentário foi sobre a impressão de que no texto Psicanálise, trabalho e política, talvez se tenha dado um peso maior à ótica das ciências sociais em detrimento de maior destaque às ideias de Dejours com cerne na psicanálise.

Houve ao final uma sugestão de aprofundarmos a articulação de ideias e estudos entre o que vem gerando a "exponenciação da violência" e os ódios intensificados e manifestos no dia a dia, em ligação com o texto que se refere aos assassinatos do policial.

Obs.: Lembro que houve dificuldades no início desta mesa, com problemas técnicos com o som, microfone e gravação, de modo que o tempo disponível para o debate foi limitado a um terço do previsto inicialmente, pois caso contrário se inviabilizaria a mesa seguinte na mesma sala.



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[1] Psicanalista. Membro do Departamento de Psicanálise do Instituto Sedes Sapientiae.




 
 
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