PSICANÁLISE E POLÍTICA: NEUTRALIDADE SUSPEITA, POR RITA CARDEAL (GRUPO DE DISCUSSÃO CLÍNICA)
Nossa clínica psicanalítica é atravessada por muitos fatores: a formação singular do analista, que carrega os elementos privilegiados teórica, clínica e institucionalmente, o contexto sócio-cultural-político e econômico que configura e sustenta o trabalho da dupla analista-analisando. Qualquer neutralidade é suspeita: tais fatores sobredeterminam as falas e as escutas produzidas nos encontros clínicos. Mais do que nunca é à ética da psicanálise que devemos nos ater, abrindo-nos receptivamente à experiência, ofertando espaço e tempo para a manifestação do desejo. A tecnicidade e a burocratização do fazer psicanalítico de mercado - reiterados pela normatização do número, frequência, duração e valores de sessões, o uso do divã, por exemplo, aquilo que nos acostumamos a chamar de enquadre -, precisam ser repensados em função do que cada transferência singular suscita e requer.
O DISCURSO ANALÍTICO COMO SUBVERSÃO POLÍTICA, POR DANIEL LIRIO (GRUPO DE LEITURA: CASOS CLÍNICOS DE FREUD ACOMPANHADOS DE COMENTÁRIOS DE LACAN
O presente trabalho parte do incômodo diante de um saber tecnocrático que, por meio da alienação, pretende gerir a humanidade com vistas a potencializar a performance dos sujeitos. A partir daí, cria-se uma demanda de eficácia para todos os campos do saber, entre eles a psicanálise. Em nosso grupo, pensamos que recusar as demandas de eficácia e de positivação do saber – aquela que trata o fenômeno humano como um conjunto de informações aguardando por serem descobertas, repertoriadas, geridas e mercantilizadas – é uma postura não apenas ética, mas também política. Trataremos de discutir, portanto, se a subversão discursiva possível na clínica cotidiana seria capaz de fazer furo em um saber hegemônico no âmbito social e, neste caso, abordar as estratégias clínicas que colocariam em marcha a subversão política.
O INCONSCIENTE FREUDIANO E SEU MOMENTO POLÍTICO: A CLÍNICA, POR TALES AB’SÁBER
A operação do método psicanalítico no trabalho clínico deixa aberta a possibilidade de localização política do paciente para si próprio, na medida mesma que as construções individuais das formações inconscientes possuem momento social, uma revelação dos jogos de poder envolvendo o desejo, o outro e as condições históricas que enquadram o sentido de uma ação simbólica humana. A este espaço psíquico podemos chamar a dimensão do self dialético, ou cultural, do sujeito do inconsciente freudiano, que tem valor individual e político a um tempo.