ALINE EUGÊNIA CAMARGO[1]
EA mesa 3A foi muito instigante e provocativa, abordando questões políticas da maior relevância na atualidade. Entre elas, tratou-se das relações entre psicanálise e psiquiatria, dos modelos das práticas clínicas no âmbito institucional e seus efeitos sobre os analistas, os pacientes e suas repercussões na cultura.
As três falas foram se enlaçando na medida em que cada uma delas desenvolvia aspectos muito complementares. O tema mais central era a dimensão política de um fazer coletivo dialogado e compartilhado grupalmente. Tendo o cuidado de não se perder a dimensão da singularidade e da especificidade da transferência nos diferentes contextos nos quais se realiza.
Helena C. Gusso, Congelamento da clínica: desdobramentos de um caso atendido em uma instituição
Helena compartilha sua experiência clínica e os impasses que a levam a questões fundamentais da prática psicanalítica. Ela nos convoca a pensar nas atuações dos pacientes sobre o enquadre. Aborda assim questões sobre a técnica nos chamados casos difíceis ou de difícil acesso e suas relações com a dinâmica institucional no qual o trabalho está inserido.
No caso, a paciente apresentava em certa dimensão um congelamento dos afetos. De um modo lento e delicado, através do processo de análise, começou a reverter esse funcionamento, revelando intricadas questões da feminilidade.
O atendimento se deu em uma clínica que atende por convênios. As mudanças de terapeuta, o lugar do pagamento nesse contexto e a duração da análise são problematizados pela autora com vistas a se evitar os riscos da esterilidade no trabalho ou de possíveis efeitos iatrogênicos.
Silvia Ribes, pelo grupo: Medicações Psiquiátricas em análise: como quando e por que, apresentou o trabalho: Entre a química das palavras e a química da medicação
Silvia propicia uma viagem pela história das relações entre psicanálise e psiquiatria, revelando diferentes pontos de vista da relação entre esses dois campos do saber.
Com isso, levanta subsídios não apenas para um aprofundamento das reflexões sobre os efeitos da medicação no percurso de uma análise, mas também o seu inverso: o efeito da análise sobre a resposta do paciente ao medicamento. Através da História podemos reconhecer as idas e vindas de aproximações e distanciamentos desses dois campos intimamente relacionados às políticas de Estado.
Bruno Espósito, A clínica dos Projetos Terapêuticos e o atual panorama da Saúde Mental: um novo reconhecimento às terapias de grupo?
Apresenta o trabalho realizado na instituição Projetos Terapêuticos, que se dedica ao atendimento de pacientes graves, especialmente psicóticos. Utilizando estratégias de atendimentos intensivos de abordagem grupal, com inclusão das famílias, o grupo realiza práticas clínicas institucionais nas quais se dá uma coletivização do trabalho.
O autor demonstra que esse tipo de prática clínica se insere em uma tendência mundial de retomada das estratégias alternativas de tratamento para os casos de psicose. Representam uma tendência de superação do modelo individual centrado no atendimento médico e apresentam resultados muito mais significativos na rehabilitação dos pacientes em termos de retomada de projetos de vida. Enfatiza em sua fala a importância de reconhecer e divulgar esses trabalhos e seus resultados quantitativos e qualitativos, de modo a restaurar seu valor e o dos trabalhadores no campo da Saúde Mental.
Debate:
Deu-se em torno do caso clínico apresentado; das peculiaridades da clínica institucional na atualidade e da importância de se ampliar o diálogo entre colegas sobre o uso das medicações nos processos de análise.
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[1] Psicanalista. Membro do Departamento de Psicanálise do Instituto Sedes Sapientiae.