TIDE SETÚBAL[1]
Em junho de 2015, nosso grupo O Feminino e o Imaginário Cultural Contemporâneo realizou, no Sedes, a terceira jornada de trabalho, Corpos, Sexualidades, Diversidade. A consistência teórica dos 30 trabalhos apresentados, acompanhados de grande participação de um público de 220 pessoas, resultou em um encontro muito produtivo.
A temática das sexualidades e diversidade tem se mostrado cada vez mais relevante e contemporânea. Num mundo de muros sendo construídos, decretos autoritários e xenofóbicos sendo assinados, assim como numa cidade cada vez mais pintada de cinza, falar, escrever, oferecer resistência ao totalitarismo, fazendo circular a possibilidade de se olhar para a diversidade como algo que acrescenta e enriquece, parece-nos uma posição subjetiva e política fundamental de ser sustentada publicamente.
O desdobramento da jornada num livro tem grande importância para os autores e para o grupo do Feminino. O processo de transformar uma apresentação lida ou falada num texto escrito e publicado é a oportunidade de inaugurar uma apropriação ainda mais efetiva e autoral do trabalho que, ao se apresentar para um público muito mais amplo, exige um cozimento lento e um acentuado rigor com cada pensamento e palavra. Para o grupo, o livro é resultado de um fértil trabalho coletivo que culmina em uma preciosa oportunidade de concretização, sistematização e divulgação de seu trabalho e posicionamentos teóricos, assim como os de outros colegas do Departamento.
Como consequência do grande interesse e mobilização de mais essa jornada, assim como dando continuidade às duas jornadas e aos dois livros anteriores – Figuras clínicas do feminino no mal-estar contemporâneo (2002) e Interlocuções sobre o feminino na clínica, na teoria, na cultura (2008) - essa terceira materializou-se, então, num belo livro de 423 páginas, organizado pela Silvia Alonso, Danielle Breyton, Helena Albuquerque e Luciana Cartocci.
Para divulgar e comemorar a publicação, no dia 10 de novembro de 2016 organizamos um coquetel de lançamento, no qual os autores puderam autografar o livro e festejar essa conquista. Foi um encontro alegre, no qual os autores, colegas, amigos e familiares lotaram o auditório principal do Sedes, distribuindo-se nas várias mesinhas espalhadas pelas escadas, trocando ideias e dedicatórias. Ao ver a disposição das mesas, alguns dos psicanalistas que prestigiaram o evento lembraram-se, em tom descontraído, das cartomantes em seu local de trabalho. Brincadeiras e diferenças à parte, a associação é interessante, pois espera-se que uma cartomante sempre tenha uma resposta sobre o futuro. De certa forma, os pacientes demandam algo semelhante dos analistas, de seu saber. Querem saber de seu desejo (vou encontrar um amor?), de sua morte (dará tudo certo? Nenhuma catástrofe?)... Ao que a cartomante responde com improváveis certezas, o analista contrapõe apenas com a verdade possível, provisória e atual. Mas o que é isso que desejam homens e mulheres, hoje? O que ameaça nosso eu, nosso sentido de existir? A produção do livro fala do trabalho de estarmos atentos aos mecanismos totalitários produtores de sofrimento, negando a diversidade e a diferença, ou seja, de estarmos abertos para mais perguntas e menos respostas.
Finalmente, brindamos com todos vocês a organização de um livro coletivo e plural em suas vozes. Livro que, ao se materializar em páginas concretas, mesmo numa era digital, marca uma conquista e um posicionamento do grupo que, aberto ao diálogo, sustenta a importância de um olhar profundo e diverso para a nossa vasta humanidade.
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[1] Psicanalista. Membro do Departamento de Psicanálise do Instituto Sedes Sapientiae, do grupo do Feminino e da equipe editorial deste Boletim.