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    JORNAL DIGITAL DOS MEMBROS, ALUNOS E EX-ALUNOS
    41 Abril 2017  
 
 
NOTÍCIAS DO DEPARTAMENTO

RESUMOS DOS TRABALHOS APRESENTADOS NO EVENTO ENTRETANTOS 2, NA MESA 5B – COORDENAÇÃO DE LILIANE MENDONÇA


UMA HERANÇA RUIDOSA: O MAIS AINDA E O MITO DE ORIGEM NA CULTURA DO MAL ESTAR.


Elcio Gonçalves


Na origem psicanalítica a mãe mítica, portadora do seio, corresponderia, a um só tempo: àquela que provoca a nostalgia do seio, promove a satisfação alucinatória do desejo, e é capaz de levar o infante à excitação máxima, e até mesmo à máxima satisfação, ainda que mortífera, sendo ao mesmo tempo aquela que pode aplacar a tensão que ela própria inscreveu, inconscientemente. Em tempos de culto ao brilho fálico, tão próprio à cultura contemporânea, como temos nos posicionado e que consequências esperamos recolher de nossa prática, clínica, de transmissão e intervenção, atravessados que somos pela herança atualizada do Mal-estar?


A política, em sua face pública ou privada, implica os sujeitos de cultura, por vezes produzindo mal-estar, ora compartilhável ora incapaz de tornar-se reconhecido pelo próprio sujeito que dele padece, seja por não encontrar em si mesmo condições de traduzi-lo em palavras, seja por sua não conformidade com o que encontra, sofrendo com suas consequências e com seus efeitos simbólicos. Na origem psicanalítica, o pai mítico e tirano foi morto e o acordo entre os irmãos, rivais por natureza, foi a criação de novas leis e políticas de reagrupamento e convívio. Em contraposição a esse ponto de vista, e com o ingresso do a priori feminino sobre essas mesmas origens, nos vimos, enquanto psicanalistas, às voltas com a inserção de uma mãe mítica que, portadora de um seio-falo, corresponderia a um só tempo: àquela que provocaria a nostalgia do seio, promoveria a satisfação alucinatória do desejo, seria capaz de levar o bebê à excitação máxima, e à satisfação plena, porém mortífera, sendo, simultaneamente, aquela capaz de aplacar a tensão que ela própria inscreveu. A desvalia da função paterna parece ainda hoje progressiva, corroborando a queda do pai e promovendo a fragilização do masculino, o que parece retornar de um recalcado redivivo, cuja consequência provável responde por parte do cada vez maior acirramento entre as mínimas diferenças, perpetuadas, entre outras formas pelo feminismo, ampliando e implementando novas políticas de intolerância. Como reparar, ao menos em parte, o esgarçamento simbólico consequente do acirramento entre os gêneros, em suas funções sociais, e que vemos se ampliar no tecido social, promovendo uma ética que privilegie o que, solidariamente, ainda somos capazes de preservar como conquista em comum?


A POTÊNCIA DA CLÍNICA PSICANÁLITICA COMO DISPOSITIVO POLÍTICO


Anna Maria Alcântara do Amaral, Anna Mehoudar, Daniela de Andrade Athuil Galvão de Sousa, Eva Wongtschowski, Gisela Haddad, Gisele Senne de Moraes, Lucia Helena Navarro, Mira Wajntal, Rubia Zecchin, Yone Rafaeli


A parceria com o Programa Einstein na Comunidade de Paraisópolis, iniciada em 2012, tem nos convocado a pensar a clínica psicanalítica que se pratica nessa instituição de saúde por meio do contato com uma população em situação de vulnerabilidade social. Questões como o lugar social da maternidade, as configurações especiais de conjugalidade e famílias, a frequente ausência de cuidados básicos, enfrentadas com arranjos muitas vezes precários, tanto físicos quanto psíquicos, embora muitas vezes criativos, exigem-nos um esforço de análise dessa realidade, despidos de preconceitos e, principalmente, alertas em relação a nossa normopatia. Um trabalho delicado que pretende contribuir com aspectos decisivos como emancipação, autonomia e responsabilidade pela conduta de sua própria vida, visando um tornar-se agente de sua própria história dentro de uma realidade subjetiva possível.


RE(DE)CEPÇÃO - DESAFIO INSTITUCIONAL


Cristina Parada Franch


A constituição de um setting institucional é trabalho contínuo. Organismo vivo, a instituição flutua (pulsa) de acordo com a maturidade e constituição da equipe, com a sintomatologia do que trata, com o discurso do meio ao qual está inserida, com o modelo sócio-político-cultural vigente e com tantas outras variáveis.


Este trabalho tem a intenção de pensar as transformações que foram ocorrendo no dispositivo de recepção de novos pacientes em uma instituição de base psicanalítica que trata da psicose e de casos graves. O conceito desenvolvido por Piera Aulagnier: Contrato Narcísico, assim como o de decepção narcísica primária (Fraiberg, S.,1993) serão tomados como base para pensar que tipo de intermediação se faz necessária entre os microcosmos (“silêncio imposto ao que se fala lá fora”) das famílias que nos procuram e a possibilidade de tratamento.


A percepção de que a recepção é momento delicado e privilegiado nos move a pensar e teorizar as dificuldades dessas famílias em constituir um contrato com a instituição/campo social, as dificuldades institucionais em estabelecer um contrato com essas famílias e o que das formações familiares fica projetado no campo institucional muitas vezes impedindo que esses infans-adultos façam a passagem do privado para o público.




 
 
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