RELATO DE UMA EXPULSÃO: OU QUANDO A PSICANÁLISE SILENCIOU
Cláudia de Almeida Gallo
Tendo como pano de fundo as décadas de 1920 e 1930, que sucederam e precederam respectivamente às Primeira e Segunda Guerras Mundiais, mostra-se como Wilhem Reich defendeu a aplicação da Psicanálise como instrumento de compreensão e transformação de conflitos políticos. Pretende-se abordar e mostrar esses posicionamentos como as razões que motivaram sua desfiliação da Sociedade Psicanalítica Alemã, posteriormente confirmada pela União Psicanalítica Internacional.
W. REICH, A PSICOLOGIA DE MASSAS DO FASCISMO E O MOVIMENTO PSICANALÍTICO
Mario Pablo Fuks
Proponho-me trabalhar a relação entre psicanálise e política focando alguns aspectos da prática psicanalítica e política de William Reich e de sua obra Psicologia das massas do fascismo, e nas ligações que se possam estabelecer para a compreensão de alguns fenômenos inquietantes da conjuntura política brasileira atual.
A presença marcante e conflitiva de Reich no movimento psicanalítico foi processada institucionalmente pela via da expulsão da associação, coincidente com o início de um longo período de fechamento ideológico e doutrinário da mesma.
Nos anos 70, com os ventos de liberação que percorrem o mundo, a relação política-psicanálise volta a movimentar a psicanálise e o “caso Reich” (Rodrigué) é retomado como um analisador desta problemática e dos processos de institucionalização. A instituição “oficial” fica questionada e se produzem movimentos de inovação, ruptura e criação de novos projetos coletivos, entre os quais o Curso de Psicanálise e, posteriormente, o Departamento de Psicanálise do Instituto Sedes Sapientiae.
PSICANÁLISE, POLÍTICA E DIVERSIDADE
Ana Maria Siqueira Leal, Cleide Monteiro, Cristina Bergantini, Denise M. C. Cardellini, Débora P. R. Felgueiras, Elcio Gonçalves, Maria Francisca Marinho Lutz, Lilian Sellmann N. de N. Baptista e Fogaça, Marcia Ramos, Marli Chapeval, Mania Deweik, Mario P. Fuks, Maria Helena Dias Caffé, Pedro Mascarenhas, Roberta Kehdy, Silvia M. Gonçalves, Rodrigo A. F. Santos.
Thamy Ayouch refere-se a uma reivindicação feita por vários psicanalistas, de uma dimensão não política da psicanálise, considerando tais questões sem relevância, assuntos sociais. Essa dimensão, segundo ele, era recusada em nome de uma dissociação do subjetivo, privado e o coletivo e o social, o público, sendo o primeiro o único alvo da psicanálise. Pergunta-se se o político é algo unicamente exterior ou algo situado no centro da estruturação e da organização psíquica do sujeito.
O nosso percurso enquanto grupo foi dirigido, ao longo dos seus 14 anos de existência, pela questão dos efeitos sobre a constituição da subjetividade das mudanças que se processaram em vários âmbitos do social. Podemos chamar essa transformação do social de política?
Como os movimentos de transformação do social manifestam sua raiz política?
Política enquanto proposta de organização das relações entre os humanos pode ser uma maneira de colocar a questão.
Alguma posições de Marcelo Viñar revelam um caráter de defesa política do processo civilizatório contra a barbárie, a irredutibilidade do conflito que precisa ser mediado pela palavra e pelos acordos, que envolve perdas e ganhos nas condições de construir um Eu e um Nós, de um processamento das experiências, da singularidade do humano. Essa seria a articulação da política com a psicanálise enquanto teoria. E os psicanalistas: a construção das condições para sua realização?
A partir destas considerações, questionamos como pode ser pensada a inserção da política no interior da teoria psicanalítica. Teremos como referência estudos que vimos desenvolvendo, além de Thamy, com Giorgio Agamben, Marcelo Viñar e Christophe Dejours.