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    JORNAL DIGITAL DOS MEMBROS, ALUNOS E EX-ALUNOS
    42 Junho 2017  
 
 
NOTÍCIAS DO DEPARTAMENTO

FLAPPSIP: UM HORIZONTE QUE SE ALARGA PELA AMÉRICA LATINA


TIDE SETUBAL[1]


Nesses últimos tempos, o Departamento de Psicanálise do Sedes vinha trabalhando a possibilidade de pertencer a alguma Associação internacional, na direção de ampliar sua inserção em outros espaços psicanalíticos. Nesse contexto, como os colegas acompanharam através de comunicados e de uma reunião no sábado, dia primeiro de abril desse ano, o Departamento colocou em marcha os trâmites de filiação à FLAPPSIP, o que culminou na nossa participação no IX Congresso: Psicanálise – um mundo em transformação, organizado por essa Federação, que aconteceu em Porto Alegre entre os dias 19 e 21 de maio.

A Federação Latinoamericana de Associações de Psicoterapia Psicanalítica e Psicanálise existe desde 1998 e congrega nove instituições dos seguintes países: Brasil, Argentina, Chile, México, Peru e Uruguai. Além do Departamento de Psicanálise do Sedes, outras instituições psicanalíticas brasileiras relevantes estão aderindo a essa Federação, o que nos aponta para um interessante momento de abertura e adensamento desse espaço de interlocução. Durante o congresso, os nossos delegados provisórios, escolhidos pelo Departamento, Mario Fuks e Roberta Kehdy, fizeram reuniões com os organizadores da FLAPPSIP, confirmando nossa aposta.

No âmbito do congresso, foram realizadas conferências, mesas interinstitucionais, mesas de trabalhos temáticos e uma reunião da rede de investigação da FLAPPSIP. Nas mesas temáticas, foram apresentados sete trabalhos pelos seguintes colegas do nosso Departamento: Ana Patitucci; Roberta Kehdy; Ana Lucia Panachão, Paula Francisquetti e Tatiana Inglez-Mazzarella; Tide Setúbal, Maria Carolina Accioly, Helena Albuquerque e Verônica Melo; Cristina Parada Franch; Mara Selaibe; Julia Catani.

A cada rodada de mesas que terminava, escutava-se pelos corredores uma satisfação em pertencer ao Departamento de Psicanálise do Sedes, na medida em que os trabalhos foram sendo reconhecidos pela profundidade e densidade teórica. Claro que muitos trabalhos de outras instituições também eram interessantes (outros nem tanto), mas o que nos pareceu bastante relevante destacar foi a consistência de todos os trabalhos apresentados pelos membros do nosso Departamento.

Silvia Alonso participou como representante do Sedes em uma das mesas interinstitucionais, a convite da Federação, que tinha como temática uma homenagem aos 100 anos do texto Luto e Melancolia (1917). Ela fez uma bela apresentação explorando o texto em suas dimensões históricas, clínicas, sociais e culturais. Entre muito outros desenvolvimentos teóricos, abordou a questão de como, especialmente nos anos posteriores à Primeira Guerra Mundial, a cultura começou a se incomodar com a morte mais explicitamente, a desconhecer e a patologizar os processos de luto. Vemos como, cada vez mais, há menos espaços sociais para o luto. Nesse sentido, o texto freudiano aparece como visionário já que oferece um lugar para a morte ser elaborada: um espaço intrapsíquico.

A conferência de sexta-feira, do Luis Claudio Figueiredo, também foi muito interessante, capturando a atenção da plateia durante 1h30. Ele explorou a questão de como estamos num momento social e cultural de profundo desprestígio da vida interior, não há espaço para tristeza, depressão, angústia. Contra essas vivências, vemos um sistema de defesas maníacas que geram um distanciamento afetivo e uma pseudovitalidade. O lema contemporâneo seria: caminhar para frente, para fora e para cima, num movimento hiperativo do mundo, lotado de ação, redes sociais, excessos e assim vamos perdendo a capacidade de estarmos sós. Ele nos disse que “Vivemos em uma sociedade que traz a morte na alma” e que, contra a elaboração desse luto necessário, temos desenvolvido “um sistema de defesas maníacas coletivas”.

Julio Moreno fez a conferência de sábado, deixando a plateia também muito envolvida e interessada. A partir de influências de autores como Deleuze e Derrida, ele nos apresentou o seu jeito muito pessoal de fazer trabalhar a metapsicologia e como ela se desdobra na sua clínica. Nesse caminho, contou um caso de uma criança, entrelaçando-o ao seu pensamento teórico, e mostrando como nas suas intervenções com a criança e com a família coloca um acento importante no papel do vínculo.

Nesse momento da história em que existem tantas resistências para a construção de espaços mais subjetivados, preservar a importância da psicanálise no mundo é fundamental. O exercício de se dar um tempo para pensar, escrever e se apresentar num Congresso como esse, assim como escutar uma quantidade enorme de diversos trabalhos, pode nos abastecer para continuar essa empreitada.

Mas congresso não é feito só de trabalho, houve tempo também para o lindo Museu Iberê Camargo, jantares, conversas, coquetel, encontros entre os colegas conhecidos e os que ainda não se conheciam. Chimarrão, vinho, dança gaúcha, café e livros.

Assim, retornamos nutridos de muitas trocas com colegas de outras instituições da extensa América Latina. Essa abertura nos permitiu, ao mesmo tempo, compartilhar com eles a qualidade do que produzimos dentro do Sedes e que tantas vezes começou e terminou por aqui, assim como escutar o que eles estão pensando, escrevendo, questionando-se sobre seus pacientes, a psicanálise e o mundo. Se uma das marcas do Sedes é ser plural, que o façamos alargar-se para ampliarmos ainda mais o nosso alcance e o nosso horizonte.


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[1] Psicanalista, membro do Departamento de Psicanálise do Instituto Sedes Sapientiae, integrante da equipe editorial deste Boletim e do grupo do Feminino.




 
 
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