Corpo, presença e cuidado em ato: o acompanhamento das crises nos CAPS Infantojuvenis

 

Diego Fontana Siqueira Cunha, Marina Da Silva Rodrigues, Sthefânia K. Restiffe De Carvalho

 

 

RESUMO

Neste trabalho, abordaremos as experiências de acompanhamento de situações de crise de crianças e adolescentes em Centros de Atenção Psicossocial Infantojuvenis (CAPS IJ) de São Paulo, procurando articulações teóricas com a psicanálise. O trabalho é fruto das produções do coletivo “Sustentar”, ligado ao Departamento de Psicanálise com Crianças do Sedes, que vem tematizando as interlocuções entre infância(s) e psicanálise nas políticas públicas desde 2016. Buscaremos refletir sobre o cuidado em situações de crise, seja nas modalidades de intensificação do cuidado diurno, seja no acolhimento noturno (CAPS IJ III), quando a criança ou o adolescente permanece no CAPS durante um período determinado, o que tem funcionado como um recurso potente e evitado internações. A noção de crise na Reforma Psiquiátrica, apesar de bastante heterogênea e por vezes pouco precisa, marcou profundamente um novo modo de enxergar o sofrimento psíquico das crianças e adolescentes. Essa nova perspectiva propõe um cuidado integrado com a família e com a rede existencial, ainda que por vezes considere-se necessário um afastamento, desde que temporário e breve, respeitando os direitos das crianças e adolescentes. Assim, o cuidado à crise ofertado pelas equipes dos CAPS IJ contribui para a consolidação das políticas públicas no campo da saúde mental infantojuvenil, reduzindo a necessidade de institucionalizações. Durante a pandemia, esses serviços não apenas mantiveram seus atendimentos, seja à distância (online e por telefone) ou presenciais (na própria instituição e através  visitas domiciliares), como também vivenciaram um aumento expressivo da demanda por acolhimentos, relacionado ao fechamento das portas dos demais serviços da rede (educação, cultura e serviço social). Nesse período, ficaram ainda mais evidentes as diferentes infâncias assistidas na rede pública, produto dos diversos contextos socioeconômicos e culturais. São múltiplos os modos de vulnerabilização e também os possíveis recursos empregados para contornar as situações de crise. Procuraremos discutir a partir de vinhetas clínicas e em diálogo com a psicanálise como as dimensões singulares, familiares e sociais se entrelaçam nas situações de crise, irrompendo em transbordamentos (agitações, comportamentos disruptivos, atuações e passagens ao ato), que fazem necessárias algumas estratégias, como acolhimento imediato, cuidado intensivo, intervenção em equipe e articulação da rede, tal como ofertadas pelos CAPS IJ.

 

PALAVRAS-CHAVE: Caps Infantojuvenil (CAPS IJ), intervenção na crise, psicanálise, infâncias