em Tempo\/Espaço Pandêmico: é possível retornar a presencialidade?

 

Soraya Souza, Ana Archangelo

 

 

RESUMO

A hipótese que norteia o presente trabalho é a de que o retorno à presencialidade no nosso tempo incide em novas formas do sofrimento e na constituição psíquica dos sujeitos na Escola. Partimos das (re)formulações existenciais que se apresentam com o novo normal, que gera impasses no cotidiano escolar, como, por exemplo, o fato de as crianças virem buscando na Escola um lugar de abrigo para a permanência dos laços sociais e desvinculando-se da relação com o conhecimento. Tal fenômeno caracteriza uma experiência inédita na história da instituição escolar e podemos nos questionar qual seria a função da Escola em espaços e tempos (pós-) pandêmicos.  Como torná-la significativa? E a qual seria a contribuição da psicanálise? Sustentada em autores como Freud, Lacan, Dolto, Mannoni, Archangelo, Villela e Souza, e por meio da escuta do discurso pedagógico construído em rodas de conversa on-line com professores de uma escola pública do Estado de São Paulo, pudemos (re)significar tempos de perdas, espaços invadidos e transbordados e a configuração do novo “normal” das crianças e de seus professores. Constatamos que as crianças, pela voz dos professores, haviam perdido o direito de exercer a infância, pois não podiam brincar, jogar, nem abraçar e beijar. Somada a essa perda, estava o silenciamento do luto, impedido de se fazer presente, a despeito das mortes com as quais todos estavam enfrentando. A invasão tecnológica aterrorizou os professores, acentuou as desigualdades e, ao mesmo tempo, foi mais um fator de silenciamento. Em tempo recorde, todos estavam operando a plataforma meet, zoom, dentre outras, mesmo que seus alunos não tivessem acesso à tecnologia. O não saber, as desigualdade, as perdas foram apagados e, sobre eles, a Escola procura perversamente se reorganizar com aulas e avaliações, como se nada tivesse acontecido no processo de ensino-aprendizagem. Porém, impasses, medos e terrores ali permanecem como fantasmas, enquanto a Escola procura justificar a sua (des)função.

 

PALAVRAS-CHAVE: Psicanálise; infância; pandemia; retorno à presencialidade.