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    JORNAL DIGITAL DOS MEMBROS, ALUNOS E EX-ALUNOS
    57 Novembro 2020  
 
 
MAL-ESTAR NA CIDADE

O RACISMO É PROBLEMA DE TODOS NÓS


GRUPO A COR DO MAL-ESTAR [1]


Em 19/11/2020, enquanto discutíamos na segurança de nossas casas-gabinetes-consultórios a implantação de Cotas raciais no Instituto Sedes Sapientiae, mais um corpo negro foi brutalmente abatido.

A política genocida deste país empreende cotidianamente o extermínio da população negra, protagonizando episódios de extrema violência. A cena do assassinato veiculada repetidamente sustenta um gozo perverso daqueles que filmam, pensam e dizem “alguma ele deve ter aprontado”, pois corpos negros são sempre suspeitos e devem ser eliminados e não incluídos.

O Sr. João Batista Rodrigues Freitas, pai de João Alberto Silveira Freitas, que provavelmente nunca ouviu falar em necropolítica, desabafa: “Achei que ia buscar meu filho na delegacia e recebi um corpo do IML".

Amanhecemos no 20 de novembro com um recado: Escutem, negros! Não é dia de comemorar, é dia para velar mais um dos seus! Chorem!

Alguns já se apressam em levantar a “ficha" do morto, como uma forma de uma vez mais desqualificá-lo, justificar o ato.

Mais um número na estatística, mais notas de repúdio e sigamos, pois se a cada 23 minutos um negro é assassinado, quantos mais já morrem do dia 19/11/2020 até agora?

Tal realidade inconcebível não pode mais se manter. Precisamos dar um basta! Um basta na ideia de que no Brasil não existe racismo, ideia perversa e que sustenta a recusa da terrível herança nos deixada por mais de 300 anos de escravidão.

Nós, componentes do Grupo de Trabalho A Cor do Mal-Estar, o GTACME, gostaríamos de fazer muito mais do que escrever esse manifesto, mas no momento é o que temos de possibilidade imediata para deixar registrada a nossa profunda indignação com a ausência de humanidade e o descumprimento da prática óbvia de cidadania que qualquer país necessita para merecer ser considerado uma nação.

Recriminamos e condenamos não só a barbárie de um assassinato, mas principalmente a concordância do Estado com essa barbárie. Ao negar o racismo, e consequentemente negar ter havido um crime racista, o Estado se autoriza o exercício de um governo arbitrário, desabilita a lei máxima do país, atingindo dessa forma toda a população. Frisamos: TODA A POPULAÇÃO!!

O RACISMO NÃO É UM PROBLEMA DA POPULAÇÃO NEGRA!!

Neste sentido, mais uma vez convocamos a população branca à reflexão sobre o enorme prejuízo que ela vem sofrendo ao ser conivente com a manutenção de todos esses anos de mentalidade escravocrata.

Que entendamos, de uma vez por todas, que a única chance de construirmos uma nação, onde todos se vivenciem cidadãos de fato, é assumindo uma postura antirracista com engajamento em ações diárias de combate e desconstrução do racismo estrutural.

Escutem os negros:

Poema do Erivelton Amaro[2]

Sou feito de luta
Forjado no fogo
Eu sou resistência
Não jogo seu jogo
Livre das correntes
Livre das chibatas
E chegou a hora de darmos as cartas
Eu sei que isto te assusta não é?
Minha força
Meus ancestrais
Meu pé no chão
A minha fé
Pra você entender
Pra onde vou
De onde vim
Lembre do Dr. Luther King
“I have a dream”
Meus heróis são todos assim
Meus heróis vêm das ruas
Meus heróis vêm das favelas
Meus heróis são Zumbi, Malcolm X, Mandela e Luísa Mahin



[1] Grupo de trabalho do Departamento de Psicanálise do Sedes Sapientiae, cujos membros são: Ana Lúcia Marques de Souza, Ana Carolina de Paula Santos, Anna Mehoudar, Anne Egidio, Camila Munhoz, Christiana Freire, Cristina Barczinski, Cristina Herrera, Dedé Ribeiro, Emilia Broide, Erivelton Amaro, Heidi Tabacof, Jefferson Santos Pinto, Maria Auxiliadora Arantes, Maria Eduarda Lyrio, Maria Marta Azzolini, Maria Aparecida Miranda, Marisa Correa da Silva, Noemi Moritz Kon, Otavio Augusto Delia, Paula Francisquetti, Roberta Veloso de Matos, Selma Tavares, Sergio Marinho, Silvana Jeha, Solange Maria Santos Oliveira, Sonia Alexandre e Tania Veríssimo.

[2] Membro do Grupo de trabalho A Cor do Mal-Estar.




 
 
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