Conselho de Direção 2019/2020
A Gestão 2019/2020 do Conselho de Direção do Departamento de Psicanálise teve a satisfação de apresentar - e defender - na Assembleia Geral de dezembro de 2020, a proposta de Implantação de uma Política de Reparação no Departamento, que foi francamente abraçada pelos participantes e aprovada por unanimidade.
Em uma assembleia com 7 horas de duração, sustentada na modalidade online, com aproximadamente 90 participantes, entre membros e aspirantes a membro, debatemos questões fundamentais sobre qual psicanálise pretendemos sustentar. Estimamos ter sido uma assembleia memorável, sobretudo pela marcação dos seus efeitos, desde já, históricos.
Há tempos o Departamento de Psicanálise do Instituto Sedes Sapientiae se debruça sobre as questões relativas ao racismo em seus vários espaços de interlocução. Conforme registros, remontamos o disparo desse processo à denúncia, feita pela psicanalista Maria Lucia da Silva, em 2010, a propósito do teor racista de uma fala proferida em sala de aula, no curso Conflito e Sintoma. Em decorrência, tivemos a realização do evento O racismo e o negro no Brasil: questões para a Psicanálise como um marco no avanço da discussão, em 2012. Esse evento resultou, em 2017, na publicação do livro de mesmo nome – fonte de contribuição permanente para o enfrentamento do racismo estrutural enraizado no nosso país.
A temática do racismo permaneceu aquecida entre nós, institucionalmente. Em sua esteira, foi gestado e gerado, num longo processo, e no interior da Incubadora de Ideias, o Grupo de trabalho, estudo, pesquisa e intervenção A cor do mal-estar: psicanálise e racismo. Esse grupo vem trabalhando intensamente desde 2019. Atento ao crescente movimento, cujo esforço de mobilização buscava colocar no centro do debate a ausência de reflexão sobre o racismo na Psicanálise, o CD 2019-2020 convidou esse grupo para participar, em nome do Departamento, no III Evento Interdepartamental do Instituto, em 2020.
Nesse evento online, sob o título: Em tempos de pandemia: Insistir, Resistir e Existir, o grupo A cor do mal-estar leu um manifesto intitulado Da denúncia do trauma ao manifesto do letramento. Na ocasião, o grupo anunciou a importância de ações práticas correspondentes à Carta de Princípios do Instituto Sedes – sobretudo onde nesta se encontra afirmado o propósito em desenvolver “pesquisas, cursos e serviços vinculados à realidade brasileira e voltados para as necessidades da população economicamente menos favorecida, facilitando-lhe instrumentos para assumir seu próprio projeto histórico de libertação”. A leitura do manifesto foi um acontecimento inédito, até mesmo revolucionário, dentro desta instituição. Já não era sem tempo nos mobilizarmos na construção sólida e conjunta de ações possíveis no Instituto acerca dessa pauta imprescindível e urgente.
O CD seguiu em conversa constante sobre essa pauta, realizando, inclusive, algumas reuniões com uma comissão formada por membros do GT A cor do mal-estar. Dessas conversas e debates, extraímos as ações afirmativas que foram levadas para votação na assembleia como atos simbólicos fundantes da política de reparação:
1. Isenção da anuidade para membros, aspirantes a membro e externos negros e indígenas a partir de 2021;
2. reserva de 10% (parte dos 20% já regulamentados pelo Instituto) para externos negros e indígenas em novos grupos de trabalho do Departamento;
3. antecipação na fila para início do processo de admissão no Departamento pelos aspirantes a membro e externos negros e indígenas, a partir da inclusão de um campo para autodeclaração étnica nas Fichas de Inscrição e Formulários de solicitação de pertencimento.
O Departamento assumiu também, por aprovação nesta assembleia, o compromisso de estruturar uma Política de Cotas, tanto em suas ações próprias quanto naquelas demandantes de uma articulação com o Instituto.
Vimos agindo em busca de diminuir as desigualdades existentes entre pessoas de diferentes etnias; desigualdades permanentes no sistema brasileiro desde sua formação após a Invasão do Brasil no ano de 1500; desigualdades pioradas com a escravidão a partir de 1530, com o início da colonização no País. Desde sempre esse modelo privilegia um determinado grupo sócio racial em detrimento de outros. Apenas através do desenvolvimento de Ações Afirmativas poderemos agir colaborativamente para que essas pessoas, de grupos vulneráveis, coloquem-se em um mesmo patamar de igualdade de condições e de oportunidades. Consideramos as Ações Afirmativas geradoras de inclusões diretas para as próximas gerações.
É preciso, pois, criarmos condições efetivas para maiores inserções de negros e indígenas nos diversos espaços do nosso Departamento: seja nos grupos de estudos e pesquisas, seja dando conta do fomento de suas formações contínuas através da sustentabilidade do tripé necessário para a constituição do/a analista. Isso quer dizer, na prática, não apenas no oferecimento de vagas nos cursos e seminários teórico-clínicos garantidos pelas cotas, como também devemos possibilitar a formação de cadastro de supervisores e analistas, entre todos nós, dispostos a atender colegas negros e indígenas, em formação, de acordo com a possibilidade financeira de cada um deles, como já vem sendo discutido e proposto pela Comissão Mista da área de Cursos do CD.
Entendemos haver ainda um longo caminho a ser percorrido. À gestão atual do CD (2021-2023) caberá, entre suas tarefas mais importantes, a construção de estratégias para articulação do desenvolvimento da política de cotas junto aos demais Departamentos e à Diretoria do Instituto Sedes.
Encerramos nossa gestão com a alegria de ter participado deste início, tardio, das ações afirmativas no nosso Departamento de Psicanálise.
Conselho de Direção – Gestão 2019/2020
Nanci de Oliveira Lima - Área de Adm. e Finanças
Maria Cristina Petry B. Martinha - Área de Relações Internas
Mara Selaibe - Área de Relações Externas
Elaine Armênio - Área de Clínicas e Instituições
Mabel L. Casakin - Área de Eventos
Luciana Cartocci - Área de Formação Contínua
Ana Lucia Panachão - Área de Transmissão, Pesquisa e Intervenções Externas
Solange M. Santos Oliveira - Comissão de Admissão
Iso Alberto Ghertman - Comissão Mista Área de Cursos