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    JORNAL DIGITAL DOS MEMBROS, ALUNOS E EX-ALUNOS
    59 Julho 2021  
 
 
HOMENAGEM

EM HOMENAGEM A LEONOR RUFINO


FATIMA MILNITZKY [1]


Nossa primeira experiência física de existir é ocupar um espaço. Afetivamente, no entanto, somos ocupados pela memória. Convivem na memória mais de uma Leonor. Uma amiga, uma mulher, uma psicanalista, uma colega, uma mãe, uma filha, uma irmã, uma tia, uma professora, uma coralista. A Nonô, a Léo, a Nô. Amorosa, brava, doce, exigente, íntegra, inteligente, solidária, valente e querida.

Firme em seus propósitos, nunca deixou de dizer sim à vida nem de sorrir para ela. Era dona de sua vida e responsável pela de todos. Orquestrava e regia o que havia de vida ao redor, com sabedoria e beleza. Os laços eram fortes. Conhecia de perto a vida, o gosto e hábitos dos familiares, dos amigos e amigas. Um amigo que fosse trocar de carro não hesitava em seguir sua recomendação, pois sabia que havia uma meticulosa pesquisa prévia feita por ela. Uma filha de amiga que mudasse de casa contava com seu criterioso senso estético para disposição de móveis, de quadros e objetos de arte.

De seu olhar não vinha só a luz do desejo que guiava seus passos, mas também recortava a arte daquilo que iluminava. Não tinha vergonha de elogiar. O elogio vinha espontâneo e surpreendia. Também não se furtava a fazer exercício crítico quando o dever a chamava, fosse para rir, ou não.

Sua alegria era admirável. Podia estar preocupada, sofrer revezes, enfrentar adversidades, mas a alegria estava lá. Sua incrível capacidade de ter sempre palavras auspiciosas para nos endereçar, aliada à sua alegria, eram os traços mais marcantes de sua postura elegante diante do desafio de inventar a vida a cada amanhecer.

A cozinha é um lugar onde não era incomum as amigas se juntarem para cozinhar. A prosa corria solta. Passava-se a limpo a vida e faziam-se acordos quanto a conflitos entre procedimentos culinários em curso, cuja finalidade era alcançar uma comida que emocionasse. Leonor sabia porquê tinha um céu na boca. Que sorte coordenar um seminário do GTEP após a ida dela. Encontrávamos na localidade um grupo engajado e ela já havia mapeado lugares onde a comida emocionava.

Cantar fazia parte de sua vida cotidiana. Lembro de uma passagem em que o coral no qual cantava se preparava para uma apresentação em Israel, quando em um ensaio o maestro interrompe o coral, aponta numa direção do coro e diz que vai repassar aquela passagem porque tem alguém desafinando. Imediatamente ouve-se uma voz dizendo: “Não fui eu. Eu estava apenas fazendo movimento com os lábios, mas não estava cantando.” Esse episódio foi objeto de incontáveis conversas ao longo dos nossos 39 anos de amizade.

Durante os vinte e três anos de trabalhos no GTEP esteve sempre engajada e investiu com dedicação em cada posição que tenha ocupado. Foi coordenadora institucional, coordenou seminários e foi articuladora da área de eventos no conselho de direção do Departamento de psicanálise. Deixou um legado para todos os que tiveram a chance de conviver com ela, de frequentar seus seminários, fazer análise e supervisão com ela.

Agradeço a Heloísa Olmos Fernandez e José Roberto Olmos Fernandez, por terem me apresentado Leonor em um jantar na casa deles.



[1] Psicanalista, membro do Departamento de Psicanálise do Instituto Sedes Sapientiae.




 
 
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