31 de agosto e 1 de setembro de 2012
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Trabalhos

Entre mamar e surfar, análise de um menino

Fernanda Dornelles Hoff
Psicóloga e Psicanalista com clínica na cidade de São Leopoldo – RS. Membro Efetivo da Sigmund Freud Associação Psicanalítica. Coordenadora de Seminários e Supervisora da Sigmund Freud Associação Psicanalítica, Porto Alegre – RS. Membro da Sociedade de Psicologia do RS. Co-autora dos Livros: Psicanálise de Crianças, Escutas Possíveis e Movimentos Psicanalíticos: Narrativas da Teoria da Clínica e da Cultura.

Resumo

O tema da transferência, grande paradigma da Psicanálise Freudiana, suscita  questionamentos na Clínica com Crianças. O processo de transferência, enquanto eixo central da técnica, possui especificidades na análise de uma criança, por sua condição de sujeito em constituição. Apresento um caso de análise de um menino, discutindo questões ligadas ao modo como se dá a transferência e a forma como acredito que ela possa ser utilizada, partindo de aportes teóricos que até o momento fazem parte da minha trajetória.

A criança de uma ou de outra forma é incluída na estrutura edípica, no desejo dos pais e para seu amadurecimento sexual e correspondente crescimento subjetivo precisa estar excluída de algo, do contexto adulto. Precisa haver uma assimetria onde possa construir um espaço, a partir do desejo dos pais, transformados em seus. Do contrário permanece numa posição narcísica, com um excesso de identificação com os mesmos. Antônio, o menino que protagoniza essas reflexões,  confunde-se quanto a seu tamanho e espaço na relação com seus pais. Ao fantasiar ser igual a estes, precisa dar conta de algo que o captura, impedindo-o de prosseguir com as vivências da infância. Por vezes ocupa lugares que não seriam seus. Para deixar o bico, aos 4 anos, ganha uma prancha de surf, o que lhe faz maior do que de fato é.
 O espaço transferencial possui desafios e oferece novas possibilidades para a trama que Antônio construiu. Através da transferência, nos intrometemos como um terceiro, naquilo que a dupla pais e filhos vinha até então processando, objetivamos a sedimentação egóica, através de ressignificações do narcisismo e do édipo do sujeito que se constitui, considerando a singularidade de cada um.  O psicanalista ocupa o lugar de quem propõe uma dúvida, um corte aos sentidos construídos previamente. Possibilita a criação de um espaço em que a criança possa ressignificar o sentido do que o captura quanto aos dos ideais dos pais. Assim a psicanálise desobstrui caminhos para que a criança possa desejar crescer e de fato fazê-lo. 


Palavras-chave: Transferência,  Constituição Psíquica, Narcisismo, Estrurura Edípica.