31 de agosto e 1 de setembro de 2012
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Trabalhos

O estado de desamparo em crianças vítimas de abuso sexual e suas implicações na contratransferência

Rafaela Cristina Bittencourt Garcia
Graduanda do curso de Psicologia da Universidade Federal de Minas Gerais – UFMG. Pelo segundo ano, bolsista de extensão no Projeto de pesquisa e atendimento a crianças e adolescentes vítimas de abuso sexual – CAVAS/UFMG.

Resumo

A partir do tema da transferência na clínica com crianças, é possível pensar que são múltiplas as formas de interação que o analista e a criança estabelecem entre si. No estudo teórico dessa prática, temas como o desamparo e a contratransferência são importantes na reflexão sobre a atuação clínica.
O presente trabalho pretende discutir esses dois conceitos que, desde Freud, permeiam vários estudos teóricos e o trabalho terapêutico, inclusive com crianças. Haverá a especificidade de um olhar particular: os atendimentos realizados no Projeto de pesquisa e atendimento a crianças e adolescentes vítimas de abuso sexual – CAVAS, que está sediado no Departamento de Psicologia da Universidade Federal de Minas Gerais – UFMG.

Para refletir sobre essas questões, percorremos alguns recortes da obra Freudiana, de forma a evidenciar conceitos que podem subsidiar o estudo do desamparo e da contratransferência. Essas reflexões também estarão pautadas em exemplos clínicos.

Por um lado, atendemos no Projeto CAVAS/UFMG crianças provenientes de núcleos familiares nos quais a negligência, a violência e os maus-tratos perpassam as relações familiares. Nesses casos, a necessidade de ser amado contrasta-se com um ambiente de descaso. Quais as consequências dessas vivências para o estabelecimento do laço transferencial com o analista e para a própria análise?

Por outro lado, ao se deparar com o estado de desamparo de uma criança que sofreu abuso sexual, o terapeuta tem que lidar com questões contratransferenciais, já que seu próprio psiquismo pode ser inundado por afetos relacionados aos traumas do paciente. Como lidar com reminiscências de seu próprio psiquismo e, ao mesmo tempo com questões práticas da realidade de seu paciente, considerando seu papel ético perante aquele ser que sofre de abusos e negligências?

A nossa hipótese é a de que o desamparo da criança toca o desamparo do profissional e é preciso que o terapeuta busque reconhecer o quanto de si mesmo está implicado na situação analítica. Dessa forma, seria possível trabalhar com pacientes em situações extremas de forma mais eficaz e condizente com sua realidade psíquica e social.


Palavras-chave: Contratransferência, Desamparo, Clínica com Crianças, Abuso Sexual.