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Trabalhos

Disfluência, dificuldade de articulação e acting out: um dizer que transborda

Lia Lima Telles Rudge: Psicóloga pela USP, Psicanalista pelo Departamento de Psicanálise com Crianças do Instituto Sedes Sapientiae, membro do Departamento de Psicanálise com Crianças do Instituto Sedes Sapientiae.

Eixo temático: Sexualização da infância

Resumo

Sexualização da Infância é o eixo temático deste trabalho, cuja pertinência ao referido tema consiste em desenvolvê-lo sob este prisma: Implicações do caráter excedente da força pulsional na constituição da subjetividade, particularmente na relação do sujeito com sua própria fala; efeitos da escuta analítica num dizer transbordante que frequentemente irrompe em ato; a clínica com crianças cuja problemática central gira em torno de desordens na fala e seus desdobramentos no laço social, uma clínica que convoca um diálogo interdisciplinar e intervenções junto à família e à escola.
O objetivo desta exposição é aprofundar esta discussão a partir do caso de um menino encaminhado para análise porque as significativas conquistas que teve em sua condição de fala durante um tratamento fonoaudiológico não se sustentavam quando ele se encontrava no ambiente familiar ou escolar. Nessas situações, algo em seu dizer permanecia disfluente, inarticulável e transbordante. Em que medida essa dificuldade que persistia na função da fala poderia estar conectada à estrutura subjetiva desta criança? Foi esta questão que esta análise se propôs a investigar.
Em análise, foi a disfluência que compareceu primeiramente no discurso deste garoto, funcionando como uma inibição que se intensificava quando ele se queixava de uma impotência para convencer o interlocutor da veracidade de seus argumentos e da urgência de suas demandas. Tal inibição alternava-se com o movimento oposto: desarticulação do discurso coexistindo com atitudes de despudor. Por meio de palavrões, gestos obsenos ou agressivos, transbordamentos corporais como puns, arrotos e baba, este menino divertia-se com a possibilidade de surpreender, chocar, desestabilizar o ouvinte ou espectador, como forma de convocar uma resposta ou reação de sua parte.
Ao relacionar as duas posições opostas que este garoto assumia na fala – disfluência ou desarticulação – a seus esforços dramáticos para advir frente ao desejo do Outro, a escrita deste caso busca elaborar os perigos, desafios e problemas inerentes a cada uma dessas posições e as operações lógicas que precisaram ser sustentadas em transferência para que esses riscos fossem abordados.


Palavras-chave: psicanálise com crianças; desordens na fala; transbordamento pulsional; acting out.