sedes
Trabalhos

A falta de ar no lugar de palavras: O gozo materno e a incidência do fenômeno psicossomático

Mariana Rodrigues Anconi: Psicóloga e Psicanalista. Especialista em Psicopatologia e Saúde Pública (Faculdade de Saúde Pública da USP). Mestranda em Psicologia e Desenvolvimento humano pelo Instituto de Psicologia da USP (IP-USP). Pesquisadora da Metodologia IRDI nas creches. Aprimoramento no Instituto da Criança do Hospital das Clínicas (HC-USP).

Eixo temático: A criança como lugar de gozo do adulto

Resumo

O presente trabalho é fruto dos atendimentos realizados durante o período de capacitação no Instituto da Criança do Hospital das Clínicas em São Paulo (HC/ICr-FMUSP). A capacitação é composta por horas de atendimento, supervisão e seminários teóricos. A partir de um caso atendido e supervisionado neste serviço, busca-se pensar a especificidade das patologias referentes ao campo da psicossomática, que colocam muitas questões para o analista inserido no serviço de pediatria em saúde pública, que supostamente deverá estabelecer um diálogo com as outras áreas. Não é novidade que a medicina, pelo avanço científico, acaba deixando de considerar que existe um sujeito do inconsciente que, diz de um saber não sabido, relativo a sua história, portanto, singular. Parece que a desconsideração disto estabelece um hiato, uma lacuna entre saber médico e alguns fenômenos que escapam a esta saber, como o Fenômeno Psicossomático (FSP), onde o ser humano é atingido por aquilo que é impossível de dizer pela linguagem e os significantes. Sendo assim, poderíamos pensar que as doenças psicossomáticas acabam, cada vez mais, se tornando enigmas quase intransponíveis pela medicina? No Fenômeno Psicossomático o corpo se deixa escrever algo que não consegue ser dialetizável, algo imprime uma marca. Esta falta de sentido do Fenômeno Psicossomático (FPS) pode ser pensada através da teoria da holófrase. A holófrase da primeira dupla significante, S1-S2=S1, faz com que no Fenômeno psicossomático o sujeito esteja colado a o S1 enigmático, colado em uma erupção de gozo que, consequentemente, fere o corpo, em outras palavras, a carne. Na clínica infantil o gozo aparece como elemento importante na dupla mãe-filho, e o manejo transferencial se faz imprescindível com a dupla, para que o tratamento avance. O eixo escolhido para apresentar este trabalho refere-se a “A criança como lugar de gozo do adulto”, e, com efeitos, vemos na clínica infantil o desenrolar disso, quando se é oferecido uma escuta com possibilidade de construção de narrativas singulares. Este trabalho, tem por objetivo ilustrar esta problemática a partir dos atendimentos realizados com um pré-adolescente de 11 anos diagnosticado com asma (grave) e urticária crônica. Uma pergunta que surge desde o início: Há espaço para JP fazer questão com seu sofrimento ? Para a equipe médica as questões da mãe sobrepunham as do filho — a quem o atendimento deveria ser destinado — e JP permanecia em sua repetição (crises de falta de ar) numa posição de quem confirma e atesta a fala da mãe perante a equipe médica, mantendo-se no lugar de doente. A que o sintoma de JP estava respondendo? Ou melhor (…ou pior), o que representa sair desse lugar de objeto de gozo materno? Os atendimentos foram na direção de tais questionamentos.


Palavras-chave: gozo; sintoma; fenômeno psicossomático; atendimento infantil.