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    JORNAL DIGITAL DOS MEMBROS, ALUNOS E EX-ALUNOS
    20 Abril de 2012  
 
 
NOTÍCIAS DO CAMPO PSICANALÍTICO

MOVIMENTOS DE RESISTÊNCIA À EXCLUSÃO SOCIAL


MARIA CAROLINA ACCIOLY[1]

 

 

Uma importante discussão tem sido sustentada por diversos profissionais que se posicionam frente às novas formas de subjetivação e principalmente frente as práticas de assujeitamento contemporâneas. A ideia dos fóruns de debate aponta a importância de dispositivos constantes de reflexão e compartilhamento com caráter político.

No colóquio realizado na PUC, Movimentos de resistência à exclusão social, pudemos acompanhar o encontro de dois fóruns, Fórum sobre a medicalização da educação e da sociedade e do fórum na França PASDE0DECONDUITE, representados respectivamente pela psicóloga Marilene Proença e pela psicanalista Marie Christine Davoudian.

O primeiro nasceu em 2010 como ação política do I Seminário Internacional A Educação medicalizada: dislexia, TDAH e outros supostos transtornos, possui um manifesto que junta assinaturas de pessoas, entidades e movimentos sociais, também tem um documento escrito junto ao Fórum Patologizacion de la Infancia da Argentina. Além do objetivo de ampliar o debate democraticamente, visa construir estratégias novas de intervenção e subversão da lógica dominante e assim intervir em políticas públicas. Um exemplo de conquista compartilhada neste evento foi que o fórum e os efeitos desta discussão conseguiram revogar uma lei que tinha como objetivo implantar no calendário municipal a semana do Diagnóstico de Dislexia em Santos. Eles denunciam os Programas de diagnóstico e medicalização que vem acontecendo em todo país e que precisam ser divulgados e debatidos.

As maneiras singulares de ser, pensar e fazer viram objetos (de estudo) das Ciências, e muitas vezes nos deparamos com discursos totalizantes e onipotentes que padronizam um modo de funcionar e definem o que é saúde ou doença, o certo e o errado.

Marie Christine nos trouxe uma situação vivida na França quando o governo começou a pedir pesquisas sobre dificuldades na infância na linha de ampliar o trabalho de prevenção em políticas públicas. O documento que Christine cita como “Transtornos de Comportamento da criança e adolescente” causou polêmica entre os médicos e psicanalistas que trabalham na saúde pública e que vêm há muitos anos falando de prevenção. Tal impacto justifica-se porque o documento aproximava o comportamento da criança e a delinquência, gerando uma proposta de política pública para prevenir a delinquência baseado em diagnósticos precoces de crianças desde os três anos que são consideradas possíveis delinquentes sociais. Um grupo de médicos e profissionais da saúde fizeram um manifesto e abaixo assinado em 2006, e conseguiram com 200.000 assinaturas fazer o governo revogar essa lei.

Christine ressaltou o perigo da prevenção ser reduzida a predição, a protocolar o sujeito. Esta última é eticamente perigosa pois define o futuro da criança-sujeito ao invés de pensar que uma criança está em constituição, que existe um sujeito a advir e que a sociedade está implicada na produção de subjetividade.

A medicalização exagerada e a patologização das dificuldades de ensino-aprendizagem são exemplos também brasileiros que, como este que ocorreu na França, apontam um caminho de focalizar o problema no indivíduo e não no encontro deste com o mundo. Marilene disse que o Fórum tem recebido denúncias de crianças sendo diagnosticadas e medicadas em abrigos por problemas de comportamento, ou seja, se patologiza uma criança em situação de vulnerabilidade social. Uma tentativa de simplificar e mascarar a complexidade humana, como disse Christine citando Bernard Golse.

 

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[1] Psicanalista. Coordenadora do Grupo Laço (www.grupolaco.com.br). Aspirante a membro do Departamento de Psicanálise e integrante da equipe editorial deste Boletim Online.




 
 
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