MARCIA PORTO FERREIRA [1]
No último dia de agosto e no primeiro de setembro de 2012 o Departamento de Psicanálise da Criança convidou, como faz anualmente, a comunidade psicanalítica que trabalha com crianças para conversar sobre o conceito de transferência, uma vez que estamos comemorando 100 anos da publicação freudiana de A dinâmica da transferência.
Como vimos, o convite foi muito bem aceito pelo Brasil adentro e pelo Brasil afora.
Na diversidade reunida constatou-se que, se a transferência é um conceito fundamental para a psicanálise, no atendimento de crianças ele inevitavelmente exige muita discussão.
Diante disso, o evento foi minuciosamente organizado para provocar grandes e boas conversas. Abrindo cada um dos quatro eixos temáticos: Transferência, história e cultura, A transferência e a clínica com crianças, A transferência na clínica com bebês e A transferência fora das quatro paredes, palestrantes convidados – Adela Stoppel de Gueller, Audrey Setton Lopes de Souza, Victor Guerra e Leda Bernardino - disparavam suas afinadas flechas, que foram seguidas por uma grande troca de ideias entre os três palestrantes que compunham cada uma das 18 mesas simultâneas, sempre convidando o público a entrar na conversa.
Se, só para começar, pudemos lembrar do notório embate que o conceito de transferência causou entre Melanie Klein e Anna Freud, sobre sua real existência na infância, não pudemos nos esquecer de que, no atendimento aos pequenos, inevitavelmente temos que lidar com múltiplas transferências.
A clínica psicanalítica com bebês e com crianças que vivem com seus vários pais ou sem nenhum, além de exigir situarmos e afinarmos particularmente nossas concepções sobre constituição do psiquismo, pais da realidade e função simbólica, nos obriga a alcançar uma consistência teórica que permita praticar a necessária criatividade para lidar no caso a caso. Quando, como e por que teríamos que entrar em contato com escolas, conselhos tutelares, trabalhadores dos abrigos, avós, motoristas, babás, foram questões que animaram as discussões nesse encontro.
Novas e velhas configurações familiares foram buscadas para melhor situar a criança no discurso que a constitui.
Para aqueles que gostariam de retomar os debates travados, o site do Departamento, http://www.sedes.org.br/Departamentos/Psicanalise_crianca/coloquio2012/index.html , dispõe on-line dos trabalhos apresentados. O convite para novos colóquios continua.
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[1] Psicanalista, membro do Departamento de Psicanálise da Criança do Instituto Sedes Sapientiae.