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    JORNAL DIGITAL DOS MEMBROS, ALUNOS E EX-ALUNOS
    24 Abril 2013  
 
 
NOTÍCIAS DO SEDES

CLÍNICAS DO TESTEMUNHO: QUESTÕES SOBRE A IMPLANTAÇÃO DO PROJETO EM NOSSO INSTITUTO


EQUIPE EDITORIAL DO BOLETIM ONLINE


Desde julho de 2012 diferentes setores e integrantes da Comunidade Sedes começaram a trabalhar com afinco para responder à demanda lançada pelo edital da primeira chamada pública Projeto Clínicas do Testemunho da Comissão de Anistia do Ministério da Justiça, que propõe e financia a formação de núcleos de apoio e atenção psicológica oferecida por entidades privadas sem fins lucrativos aos afetados pela violência de Estado no período abrangido pela Lei 10.559/02. Foi quando, atendendo a uma convocatória da Diretoria, se constituiu um grupo unificado, composto por Antonieta Whately [1], Isabel Mainetti de Vilutis [2], Edson Takeyama Miyahara [3], Márcia Mendes [4], Maria Ângela Santa Cruz [5], Maria Cristina Ocariz [6], Maria Cristina Perdomo [7], Igor Dias Caldeira Marques [8], Eduardo Kenji Honji [9] e Dalka Chaves de Almeida Ferrari [10], que se debruçou intensivamente sobre a tarefa de elaborar o projeto Clínicas do Testemunho do Instituto Sedes Sapientiae. Contando com o suporte da consultora externa Daniela Ricieri, o grupo atravessou um período de intenso trabalho para poder reunir “a diversidade teórica em torno de uma identificação com os princípios que norteiam o Instituto Sedes desde a sua fundação”, o que permitiu, no dizer de Isabel Mainetti, “que fossem surgindo acordos, ideias e um primeiro esboço de projeto [11]”. Ao final de cinco dias e noites de trabalho, o projeto, a ser desenvolvido em três eixos – clínica, pesquisa e capacitação – estava pronto.

Previsto para ser desenvolvido durante dois anos, a partir de 2013, o projeto do Sedes dependia da aprovação do Ministério da Justiça e concorria com vários projetos de outras instituições. E a aprovação veio: no dia 2 de outubro recebemos o 2o lugar numa relação de 11 aprovados! [12]

A partir de então a Diretoria do Instituto responsabilizou-se pelos encaminhamentos necessários à implantação do projeto, tanto ao designar que 2 de seus autores - Maria Cristina Ocariz e Edson Miyahara - assumissem a coordenação [13] quanto ao lançar um edital interno que visava à seleção de outros 9 terapeutas-pesquisadores. A referida seleção contou com os trabalhos de uma comissão interna - composta por 4 dos autores do projeto: Isabel Mainetti de Vilutis, Maria Ângela Santa Cruz, Maria Antonieta Whately e Maria Cristina Perdomo e por duas diretoras do Sedes: Dalka Chaves de Almeida Ferrari e Maria de Fátima Vicente. Esta comissão estabeleceu a realização de um processo seletivo em três etapas obrigatórias, que se estenderiam do final das inscrições (19 de outubro) à data prevista para a definição dos selecionados (26 de novembro), a saber: análise de currículo e de carta de interesse apresentados quando da inscrição; entrevistas individuais com os 15 aprovados na etapa anterior; participação em dinâmica de grupo que envolvia diálogo clínico desencadeado pela leitura de relatos de afetados pela violência de Estado.

Entretanto, em 30 de novembro, comunicaram-se exclusivamente os resultados individuais do processo de seleção, através de correspondência eletrônica remetida pela Diretoria a cada um dos candidatos. Ali se informava também, pela primeira vez aos candidatos, a restrição que havia sido feita ao edital do Ministério da Justiça pela Advocacia Geral da União [14] em meados de outubro: o parecer contrário à contratação de profissionais que já mantivessem algum vínculo empregatício com as instituições participantes. No Sedes, este era o caso de 5 das colegas aprovadas [15], assim como o de ambos os coordenadores do projeto. Em carta de 4 de dezembro, a Diretoria do Sedes confirmou o caráter irrevogável daquele parecer, assim como informou a redefinição dos trabalhos de coordenação, que passaram a ser exclusivamente assumidos pela colega Maria Cristina Ocariz, contratada então pelo Sedes para trabalhar nesta função em caráter de contrapartida financeira ao projeto.

Em reunião geral convocada para 12 de dezembro, alguns dos autores do projeto, dos integrantes da comissão de seleção e dos candidatos aprovados para o cargo de terapeuta-pesquisador – pudessem ou não assumi-lo devido à restrição já mencionada - manifestaram diversos mal-estares relacionados às mudanças efetuadas na sistemática de trabalho, em especial quanto à suspensão do acesso às informações que teriam permitido a elaboração conjunta de alternativas possíveis à situação que se apresentara. Àquela altura dos acontecimentos, constatou-se que já não havia mais tempo hábil para isto - o que levou à desistência de outras 2 pessoas aprovadas [16].

O grupo de trabalho configurou-se então com apenas 5 terapeutas-pesquisadoras: Lia Lima Telles Rudge [17], Maria Carolina Gentile Sciulli [18], Maria Liliana Inés Emparan Pereira [19], Nana Correa Navarro [20] e Paula Salvia Trindade [21], coordenadas por Maria Cristina Ocariz, tendo iniciado seus trabalhos em 14 de dezembro de 2012. É sobre o trajeto por ele percorrido que teremos a oportunidade de saber mais no evento que ocorrerá neste mês de abril de 2013.

As dificuldades vividas neste percurso acidentado evidenciaram complicações na gestão dos processos governamentais de transição política, mas também na gestão interna de nossa instituição – onde momentos de união sinérgica se alternaram aos de fragmentação. Assim, as oportunidades enriquecedoras de processamento coletivo foram seguidas de movimentos de verticalização, de predomínio de uma razão administrativa considerada indiscutível que - esvaziando a circulação das informações – produziu perplexidade e distanciamento e acabou restringindo possibilidades de participação. Por tudo isto, a breve narrativa desse processo se constitui, para nós, num convite a refletir, encarar os problemas e continuar um trabalho que é coletivo.

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[1] Terapeuta da Clínica do Sedes e membro do Departamento de Psicanálise, então articuladora da Área de Administração e Tesouraria no Conselho de Direção do Departamento.
[2] Professora e membro do Departamento de Psicanálise do Sedes, então articuladora da Área de Relações Internas no Conselho de Direção do Departamento.
[3] Psiquiatra da Clínica do Sedes.
[4] Terapeuta e membro da equipe gestora da Clínica do Sedes.
[5] Terapeuta e membro da equipe gestora da Clínica do Sedes; membro do Departamento de Psicanálise.
[6] Professora e membro do Departamento de Psicanálise.
[7] Professora e membro do Departamento de Formação em Psicanálise.
[8] Psicoterapeuta ligado ao CEFIS - Centro de Filosofia do Instituto Sedes Sapientiae.
[9] Psicoterapeuta ligado ao CEFIS - Centro de Filosofia do Instituto Sedes Sapientiae.
[10] Coordenadora do CNRVV – Centro de Referência às Vítimas de Violência e Diretora do Sedes.
[11] Cf. “Projeto Clínicas do Testemunho do Instituto Sedes Sapientiae – Testemunho de uma Experiência”, de Isabel Mainetti de Vilutis. Boletim Online 22, Setembro de 2012.
[12] O 1o lugar foi obtido pela proposta encaminhada pelo grupo do Rio de Janeiro, dissidente do Tortura Nunca Mais. Cf. “Instituto Sedes Sapientiae compõe equipe para trabalhar no projeto Clínicas do Testemunho”, da Equipe Editorial do Boletim Online. Boletim Online 23, Novembro de 2012.
[13] A dupla composta por Maria Cristina Ocariz e Edson Miyahara assumiria, respectivamente, a coordenação e a vice-coordenação, como funções a serem alternadas ao final do 1o ano de trabalho.
[14] Nos termos do art. 131 da Constituição, "a Advocacia-Geral da União é a instituição que, diretamente ou através de órgão vinculado, representa a União, judicial e extrajudicialmente, cabendo-lhe, nos termos da lei complementar que dispuser sobre sua organização e funcionamento, as atividades de consultoria e assessoramento jurídico do Poder Executivo."
[15] Adela Judith Stoppel de Gueller (professora do curso e membro do Departamento de Psicanálise da Criança, Cristina Maria Elena Herrera (terapeuta da Clínica do Sedes e membro do Departamento de Psicanálise), Joana Manasses Penteado (funcionária do CNRVV), Nayra Cesaro Penha Ganhito (professora do curso de Psicopatologia Psicanalítica e Clínica Contemporânea, do Departamento de Psicanálise) e Vera Luiza Horta Warchavchic (professora do curso e membro do Departamento de Formação em Psicanálise).
[16] Sílvia Nogueira de Carvalho e Verônica Mendes Melo, membros do Departamento de Psicanálise.
[17] Membro do Departamento de Psicanálise da Criança.
[18] Voluntária no CNRVV e aluna do curso de Formação em Psicanálise.
[19] Do projeto Ponte da Clínica do Sedes e aspirante a membro do Departamento de Psicanálise.
[20] Voluntária na Clínica do Sedes e aluna do curso de Psicanálise.
[21] Membro do Departamento de Psicanálise.




 
 
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