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    JORNAL DIGITAL DOS MEMBROS, ALUNOS E EX-ALUNOS
    26 Setembro 2013  
 
 
NOTÍCIAS DO DEPARTAMENTO

MUITAS TONALIDADES E DISSONÂNCIAS FAZEM UMA COMPOSIÇÃO


A respeito da Jornada Interna do Departamento - Maio de 2013



ANA MARIA LEAL[1]



Há muito tempo atrás, nos primórdios da criação do Departamento de Psicanálise, ficou marcado um momento onde discutíamos se nossa estruturação identitária institucional adquiriria um formato e qual seria ele. Nesse momento que trago da memória, o debate foi de que tipo de direção teríamos. Formaríamos chapas programáticas, ou nos organizaríamos de outra maneira?

Este foi um ponto emblemático, pois giramos desde nossa formação, constantemente, entre formatar, mas não engessar; ter um contorno, uma organização, mas que permita também abrir, discutir, mudar. Optamos então, por Jornadas e Assembléias, que nada têm de burocráticas, e sim são trabalho vivo e ativo, sempre em mutação.

São sim, trabalhosas, mas a conversa é vibrante e está sempre se remetendo aos rumos que tomamos e tomaremos como instituição psicanalítica, procurando não perder a atualidade e refirmando os princípios éticos. A criação do Conselho de Direção confirmou o alvo desta direção.

Levantarei alguns temas que chamaram minha atenção nos trabalhos daquela manhã de sábado, 25 de maio de 2013, sem intenção de seguir a intensidade, a sequência ou a quantidade de assuntos debatidos, apontando alguns pontos decididos e outros que suscitaram debate, preparando o terreno para conversas futuras.

O Conselho de Direção sugeriu como método de trabalho ler o Anteprojeto e depois discutir, item por item, as propostas que vieram sendo intensamente trabalhadas ao longo dos últimos anos por um grupo de trabalho, e convidou a colega Daniela Danesi, que pertenceu a este grupo, a elaborar um texto que ela expôs no início dos trabalhos. O Conselho também recolheu sugestões de membros, neste período pré-jornada, e os anexou ao material.

Daniela, em sua fala, relembrou os passos da caminhada de construção de nosso Departamento, indicando que, com o passar das discussões, surgiu o anseio de um Regulamento que sustentasse estes ideais. Definindo bem toda essa expressão de trabalho e criação ela diz: “Podemos resumir isto em duas palavras: autonomia com pertinência”.

Assim, trabalhos que produzem um sentimento de estranheza, por sua tendência à repetição idêntica de temas e narrativas que os faz parecer desgastados, voltam, exigem reelaboração, vão se ressignificando e então mostram sentido e parecem dar alívio quando fechamos alguns pontos e avançamos na construção.

Dois temas me pareceram bastante relevantes: Uma antiga discussão sobre a expressão produção científica sobre o fazer da psicanálise, citado no anteprojeto, a qual se sugeriu mudar para atividade de produção, e que alguns consideraram que devíamos manter o científico – segundo critérios e parâmetros da psicanálise. Esta proposta venceu por consenso.

Outra proposta que causou mais polêmica foi a da criação de uma Comissão de Ética. Mais debatida, ela também foi aprovada e este trabalho já segue em andamento no Conselho de Direção.

Uma preocupação de fundo foi com a criação de lugares para novos membros, tendo como sugestão compor novos grupos no espaço Incubadora de Ideias, e também lugares nos demais grupos do Departamento.

Outro tema levantado foi com relação aos Cursos do Departamento, para os quais ficou a tarefa de elaborar critérios claros para a admissão de professores, para submetê-los a futura Assembléia.

Como apontei no título deste artigo, ainda apostamos nas dissonâncias e tonalidades para formar um corpo e creio que elas são fundamentais quando tratamos de psicanálise.

Lendo um comentário de Paulo Costa Lima, professor e compositor de música popular e erudita da Escola de Música da UFBA, sobre entrevista dada por Alain Didier-Weill em sua vinda ao Brasil, ocasião em que salienta suas pesquisa nas relações entre música e psicanálise, silêncio e vozes no encontro com o outro, trago aqui o trecho que me agradou:

“O reconhecimento de uma divisão interna à psicanálise, entre os que tendem para o favorecimento do controle daquilo que se fala, e daquilo que se sabe, versus os que preferem assumir o risco de falar o que ainda não se sabe, apostando dessa forma, na possibilidade de encontrar ouro ou coisa alguma.” E na sequência: “Como governar, educar, ou escrever uma crônica, sem pretender dar a solução? A subversão produtiva de não pretender uma solução.”

Creio que para construir um espaço de inserção como este ao qual pertencemos, nos propomos tempo, muita elaboração psíquica, e querer. Tarefa que nos movimenta a escutar, silenciar, pensar, pensar novamente.

Para compor uma música, os músicos precisam de pauta. Mas tanto ali como em nossas mentes a música surge livremente. É criação. Assim somos!


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1- Psicanalista. Membro do Departamento de Psicanálise do Instituto Sedes Sapientiae.




 
 
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