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    JORNAL DIGITAL DOS MEMBROS, ALUNOS E EX-ALUNOS
    29 Junho 2014  
 
 
NOTÍCIAS DO CAMPO PSICANALÍTICO

100 ANOS DE PSICANÁLISE NO BRASIL, 20 ANOS DA ESPECIALIZAÇÃO
EM TEORIA PSICANALÍTICA PUCSP-COGEAE


Silvana Rabello [1]

Há pouco mais de vinte anos, um grupo de doutorandos da Pós Graduação em Psicologia Clínica da PUCSP recebeu do Prof. Dr. Renato Mezan um convite para organizarem um curso de Pós Graduação Lato Sensu, que teria sido encomendado por uma universidade do sul do Brasil.
 
O grupo era formado por Bernardo Tanis, Caterina Koltai, Elisa Ulhôa Cintra, Silvana Rabello e Nelson Coelho Filho, encarregado também de coordenar o trabalho. O resultado foi a composição do curso que acabou por ser aprovado e adotado pela PUCSP-COGEAE: Pós-Graduação Lato Sensu em Teoria Psicanalítica.

Desde então, vinte turmas de profissionais das mais variadas áreas de conhecimento dedicaram-se ao estudo sistemático da teoria psicanalítica freudiana junto aos citados professores e a outros que foram se unindo a esse grupo, todos estudiosos acadêmicos da teoria psicanalítica, mas também psicanalistas formados nas mais diversas escolas de formação. De início, o curso acontecia aos sábados, mas logo passou à composição atual, que se dá às terças e quintas à noite.

Nessa história de encontros produtivos e afetivos foi se compondo a pluralidade que sempre caracterizou o grupo de professores desse curso, que busca no estudo rigoroso dos textos freudianos a interlocução com diversos pontos de vista através dos mais diversos operadores: a clínica, a sociedade, a criança, a cultura, a psicopatologia, entre outros, efetivando desta forma o traço fundante da nossa história e formação – a pluralidade. Pluralidade também na composição do grupo de professores que integra profissionais de diversas áreas: psicanalistas, psicólogos, antropólogos, engenheiros, sociólogos, médicos, advogados, entre tantos outros que buscam, no aprofundamento do estudo da teoria psicanalítica freudiana, um caminho para recriarem suas práticas e seu olhar sobre si e sobre o mundo.

Para brindar tantos encontros, tantas interlocuções e a produção de tantas monografias por aqueles que aqui passaram, organizamos  o evento 100 anos de Psicanálise no Brasil, 20 anos da Especialização em Teoria Psicanalítica PUCSP-COGEAE, que aconteceu nos dias 9 e 10 de maio de 2014, no auditório do campus PUCSP - Marquês de Paranaguá.

Foram cinco mesas-redondas, compostas cada qual por dois professores e um ex-aluno, nessa ordem, e um jantar festivo reunindo os presentes: alunos, ex-alunos, amigos e professores, alguns destes que, por diversos motivos, já não se encontram mais no cotidiano desse curso.

Foi um raro momento em que pudemos nos ouvir com calma, desfrutar das elaborações às quais cada qual vem se dedicando, professores e ex-alunos, o que redundou em importantes reflexões sobre a psicanálise no Brasil nos dias de hoje, porém à luz da sua história.

Os ex-alunos apresentaram algo a mais, além das ricas elaborações teóricas, um depoimento de como a teoria psicanalítica vem determinando novas discussões em suas práticas e desencadeando novos fazeres que contemplem, nas mais diversas áreas, a subjetividade em nossa cultura.

A equipe atual de professores inclui ainda, ao lado destes que compuseram as mesas-redondas: Oscar Miguelez e Silvana Rabello.

Assim foram as mesas:

6a feira, 9/5/2014
20:00 - 21:30h: Histórias da Psicanálise
Renato Mezan (PUC-SP; Sedes Sapientiae): A história da Psicanálise na formação do analista
C. Lucia Valladares (Cogeae/PUC-SP): 100 anos de Psicanálise no Brasil: Freud explica!
Josiane Cantos Machado (Teoria Psicanalítica; Mestre em Psicologia Clínica PUC-SP): Psicanálise e Psiquiatria nos anos 20: a Liga Brasileira de Higiene Mental

Sábado, 10/5/2014
9:00 - 10:30h: História da psicanálise com crianças
Renata Cromberg (Cogeae/PUC-SP; NUPSI/USP; Sedes Sapientiae): Primeiras psicanalistas
Adela Stoppel de Gueller (Cogeae/PUC-SP; Sedes Sapientiae): Primeiros pacientes
Eugênio Canesin Dal Molin (Teoria Psicanalítica; Unifil-Londrina/PR; Sedes Sapientiae): Ferenczi e o retorno ao traumatismo infantil

10:30 – 12:00h :  Psicanálise: ensino e formação

Ines Loureiro (Cogeae/PUC-SP): Teoria psicanalítica: especialização em curso

Mauro Meiches (Cogeae/PUC-SP): Uma questão nem tão marginal assim

Elcio Gonçalves de Oliveira Filho (Teoria Psicanalítica; Sedes Sapientiae): Revisitando o aprendiz e os feiticeiros

13:30 – 15:00h:  Psicanálise e Saúde Pública

Sidnei José Casetto (UNIFESP): Psicanálise e clínica comum

Teresa Endo (Cogeae/PUC-SP; SMS): Saúde Mental à margem da clínica

Miriam Ribeiro de Faria Silveira (Teoria Psicanalítica; HMMEVN/ PMSP):
A Psicanálise como referência teórica: reflexos nos atendimentos de uma maternidade

15:00 - 16:30h: Psicanálise e questões contemporâneas
Julieta Jerusalinsky (Cogeae/PUC-SP; Centro Lydia Coriat; APPOA): Clínica com bebês em sofrimento versus epidemia de patologização precoce

Pedro Ribeiro de Santi (Cogeae/PUC-SP; ESPM): Desejo e adição nas relações de consumo

Marcelo Soares da Cruz (Teoria Psicanalítica; UNIP; doutorando IPUSP): Aproximações entre estados-limite e adicções

Partindo da história da Psicanálise no Brasil nos últimos 100 anos, foi convocada a atenção dos psicanalistas dos dias de hoje aos perigos do dogmatismo na psicanálise, uma vez que este já determinou seu empobrecimento, muitos equívocos e seu isolamento na comunidade científica, como também na comunidade em geral. Haveria uma eventual confusão, que se repete, entre rigor e dogmatismo. E a psicanálise na Universidade, no intercambio diário com pesquisadores e estudiosos das mais diversas áreas, é exigida em seu diálogo aberto, como em sua fundamentação clara e acessível – daí o valor de prosseguirmos nesta discussão.

Pudemos perceber, ainda à luz da história, que a psicanálise, em suas reflexões acerca do humano e da singularidade do seu sofrimento na vida em sociedade, deve travar inevitável discussão com algumas práticas atravessadas por ideais eugenistas, ou mesmo higienistas, sombra esta que parece sempre pairar sobre uma sociedade, sintoma talvez do mal-estar constituinte do homem na vida civilizada, especialmente quando pensamos acerca da infância e dos impasses de sua educação.
Falando-se em crianças, resgatou-se as primeiras práticas na história da psicanálise com crianças, com destaque às importantes contribuições de Sabina Spielrein e das primeiras crianças em atendimento em psicanálise, seus impasses e descobertas.

Discutiu-se também as contribuições da psicanálise à saúde pública, aos cuidados à gestante e ao recém-nascido numa UTI neonatal, problematizando o lugar do psicanalista nas instituições de saúde e a Clínica Comum enquanto estratégia para a construção interdisciplinar da saúde.

Resgatou-se também as contribuições, nesse últimos 100 anos, dos espaços de transmissão, dentro e fora da Universidade, considerando o lugar de cada qual na construção da psicanálise na sociedade contemporânea.
Assim, nesses dias, alguns temas apresentados fizeram trabalhar a psicanálise e os psicanalistas, assim como os diferentes estudiosos da teoria psicanalítica de outras áreas, todos em clima contagiante de festa por esse encontro e pelas 20 turmas que já nos acompanharam.

E, nesse mundo sem verdades absolutas – se alguém deve saber disso, é o psicanalista, a partir do legado freudiano -, façamos a palavra circular, com seus impasses e saídas, construindo as novas representações da psicanálise em nossa sociedade!

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[1] Psicanalista, membro do Departamento de Psicanálise e do Departamento de Psicanálise da criança do Instituto Sedes Sapientiae, professora na PUC-SP.



 
 
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