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    JORNAL DIGITAL DOS MEMBROS, ALUNOS E EX-ALUNOS
    29 Junho 2014  
 
 
NOTÍCIAS DO DEPARTAMENTO

APARELHAGENS PSÍQUICAS, DESTRUTIVIDADE E KULTURARBEIT.
ELEMENTOS PARA UMA CLÍNICA DA INSTITUIÇÃO


FERNANDO DA SILVEIRA[1]


Este é o terceiro evento organizado pelo Grupo de trabalho e pesquisa sobre Dinâmicas grupais e institucionais do Departamento de Psicanálise do Instituto Sedes Sapientiae. Contou com a participação de Georges Gaillard, psicanalista, membro do Quarto Grupo Organização Psicanalítica de Língua Francesa, fundado por Piera Aulagnier, entre outros psicanalistas. É livre-docente pela Universidade Lumière Lyon 2 na França. Nesta Universidade, leciona atualmente na cadeira que foi ocupada por René Kaës. Na tradição lyonesa de estudos no campo da intersubjetividade, Georges Gaillard tem se dedicado a pesquisar as ligações entre registros intrapsíquicos, intersubjetivos e trans-subjetivos nas instituições de saúde e de assistência social.

Para analisar as dimensões transsubjetivas do psiquismo e suas repercussões na clínica dos sujeitos, dos grupos e das instituições, Gaillard propõe uma metapsicologia baseada na primazia de Thanatos e suas implicações na clínica de grupos instituídos e da instituição, na clínica dos dispositivos de regulação de grupos instituídos e na clínica do trauma e das situações extremas. Nesta conferência, Gaillard abordou as mudanças do metaenquadre que caracterizam a nossa “modernidade tardia” e que resultam em transformações sociais maiores e impactam no conjunto dos componentes da subjetividade: intrapsíquico, intersubjetivo e transsubjetivo.

As instituições de saúde e de trabalho social, bem como o próprio movimento analítico mundial, encontram-se massivamente afetados por tais transformações, tanto no que diz respeito à realização da tarefa primária (a assistência, o acompanhamento), quanto na construção do “viver junto” (o fazer da equipe). Essas configurações grupais e institucionais foram consideradas e analisadas a partir do princípio da pulsão de morte e do Kulturarbeit, na tentativa de responder: como pensar clinica e psicanaliticamente essas configurações? Como sistematizar parâmetros para desenvolver uma clínica da/na instituição?  

A contribuição de Gaillard é bem vinda neste momento em que repensamos as instituições psicanalíticas, o trabalho dos psicanalistas nas diversas instituições e o papel social do psicanalista. São grandes as contribuições que esta tradição da escola lyonesa traz para a psicanálise desenvolvida em contextos distintos dos tradicionalmente estabelecidos pela clínica freudiana. Com um pensamento clínico apoiado em um rigoroso corpo teórico, Gaillard nos mostra que, ao trabalhar em diferentes enquadres, como em trabalhos com grupos e nas instituições, a psicanálise tem muito a ganhar, na medida em que aceita as modificações que estas novas condições do fazer psicanalítico trazem para a clínica, a teoria e para as instituições psicanalíticas.

Após a conferência, foi realizada uma discussão de caso exclusiva para membros, aspirantes a membro, alunos e ex-alunos do Departamento de Psicanálise e assinantes da revista Percurso. A mesa, coordenada por Cristiane Curi Abud, teve um caso apresentado por Mira Wajntal, intitulado Ato de conquista da palavra e imputabilidade, que foi comentado por Georges Gaillard. Este caso  foi pensado no contexto de um CAPS, instituição de saúde e cuidado. Gaillard nomeia instituições deste tipo como de mesinscrição pois devem lidar com as falhas de inscrição no tecido social que marca de maneira importante a vida da população atendida. Os efeitos que este tipo de trabalho deixa na equipe destas instituições devem ser analisados para que a capacidade de trabalho seja preservada. Cada usuário que chega ao serviço exige da equipe trabalho psíquico no sentido de ter que lidar com as repetições mortíferas. Se a equipe não dá lugar às repetições dos seus usuários, se responde de maneira estereotipada e pouco criativa às demandas, se não pode contar com a própria solidariedade, não poderá oferecer aos usuários a possibilidade de que algo de novo aconteça em suas vidas.
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[1] Psicólogo, integrante do Grupo de trabalho sobre Dinâmicas grupais e institucionais e ex-aluno do Curso de Psicanálise.



 
 
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