Mara Selaibe
Andréa Carvalho[1]
Psicanálise entrevista – livro em dois volumes – recebeu um convite para se apresentar aos colegas leitores do
Boletim Online. O volume 1 acaba de ser lançado. Nele encontramos nomes de uma geração de referência: J.-B. Pontalis, André Green, Jean Oury, Joyce McDougall, Jean Laplanche, Isaías Melsohn, Emílio Rodrigué, Claude Le Guen, Radmila Zygouris, Otto Kernberg, Monique Schneider, Marcelo Viñar e conterrâneos queridos - como a argentina e, para nós, também brasileira, Silvia Alonso -, Joel Birman, Chaim Katz, Jurandir Freire, Ivone Lins e Sergio Paulo Rouanet.
Escolhemos relatar, mesmo que de maneira condensada, sua confecção ao longo dos mais de dois anos, durante os quais pôde ocorrer a preparação, ainda parcial, do material. Acostumamo-nos a dizer que esse tem sido um projeto do coletivo do Departamento. Mas talvez seja mais justo nomear a entrega do volume 1 a seus leitores como o ápice de um projeto pontual relativo a um
processo coletivo do Departamento de Psicanálise; processo coletivo iniciado e sustentado através das atividades constantes do Grupo de Entrevistas da
Percurso.
Foi exatamente o que buscamos: espraiar para um território muito mais amplo a compreensão da formação em nossa área - independentemente de escolas - apropriando-se do que a reflexão psicanalítica é capaz de produzir e estimular a pensar nos entremeios de seus problemas e questões. O critério - não tendo sido restrito à relevância do entrevistado - buscou, na qualidade de cada entrevista, o que elas podem nos inquietar na atualidade.
Reunimos 32 entrevistados, entre psicanalistas e não-psicanalistas brasileiros e estrangeiros, num total de 35 entrevistas (três deles foram ouvidos em dois momentos de suas obras). A inclusão exigiu que concordassem explicitamente (ou seus descendentes), e por escrito, em participar de outro veículo: da revista para o livro. Não foi das tarefas mais simples localizar endereços para correspondência, muitas vezes mais de duas décadas após a publicação original na revista! Contamos com a ajuda de colegas que se animaram com a ideia e foram buscar em suas agendas referências, telefones, e-mails.
Entretanto, queríamos que estes estivessem integrados de um modo mais envolvente ainda: o livro projetará aspectos do Departamento extramuros. Ora, que contasse com a presença de nossos colegas era imprescindível. Afinal, quem faz o Departamento, quem lhe dá cores e dinâmica, quem instaura e sustenta nossas diversidades somos todos nós. Lançamos nossos convites à participação escrita para 38 colegas que, em sua maioria, o aceitaram, dispostos a se debruçar sobre um dos entrevistados e escrever, num espaço diminuto, uma apresentação substanciosa. Tarefa desempenhada por todos com uma qualidade diante da qual só pudemos agradecer e partilhar o prazer da realização. O objetivo desses pequenos textos é propiciar aos iniciantes e ao público em geral, interessado pela psicanálise, a chance de se localizar em suas leituras e de nos localizar integrados ao Departamento e incluídos nas trocas e dinâmicas culturais do nosso entorno.
Um prefácio à obra era previsto desde o projeto inicial. E Renato Mezan, como coordenador da revista
Percurso, foi naturalmente a pessoa indicada. Renato nos situa a todos em relação à história da psicanálise desde Freud. Seu texto nos convida à leitura do livro. Mas, então, alguém de fora deveria dizer ao público leitor algo além de nossas próprias palavras. Escolhemos Daniel Kupermann – outro colega, desta vez institucionalmente estrangeiro a nós, e que conosco partilha uma ética de entendimento do que seja importante aos caminhos da psicanálise. E a capa? Estava indicado guardar relativa correspondência com a revista de origem, sua estética... E ainda dar ao livro condições de se projetar por ele mesmo nas estantes das livrarias. De novo a colaboração, agora de Sérgio Sister, artista conceituado que nos presenteou com seu trabalho. Fernanda Rios, colega que não conhecíamos, veio se juntar e preparou o índice onomástico.
Trata-se de uma orquestração com 42 pessoas envolvidas diretamente na produção atual; e quantas serão ainda aquelas dedicadas a preparar e executar as entrevistas editadas ao longo de 50 números de
Percurso? Quando se as lê, uma após outra, explicita-se a vastidão do campo psicanalítico e a riqueza das apropriações consistentes, guiadas pelo pensamento reflexivo dos autores. Uma mesma questão – a formação de analistas, as conexões possíveis da psicanálise com outros saberes e outras disciplinas, o exercício clínico, a metapsicologia, para dar exemplos – se coloca pensada de ângulos diversos, algumas vezes confrontantes, outras vezes de maneira complementar. Ler uma entrevista por semestre permite conhecer ou aprofundar temas daquele entrevistado do momento; ler um conjunto delas em sequência traz uma visão sofisticada da psicanálise e permite uma crítica mais aguçada de seus limites, bem como uma percepção sutil de ângulos que denotam espaços e dimensões tantas.
A Editora Estação Liberdade nos recebeu e tem nos permitido acompanhar cada passo do seu minucioso trajeto na confecção do livro como objeto final. Os resultados serão colhidos por todos nós, para a perenidade de
Percurso, algo importante: os direitos autorais lhe serão periodicamente creditados pela editora. Simbolicamente a revista e o Departamento reafirmam mais uma vez sua força, oferecendo a toda comunidade psicanalítica e interessados dois volumes da melhor safra, material cuidadosamente reunido, fonte de pesquisa e referência, um livro de consulta constante. É com orgulho que organizamos esse projeto enraizado no processo editorial coletivo que dura, agora, mais de 25 anos. Que venha o volume 2!
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[1] Psicanalistas, membros do Departamento de Psicanálise do Instituto Sedes Sapientiae e organizadoras dos livros
Psicanálise entrevista.