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    JORNAL DIGITAL DOS MEMBROS, ALUNOS E EX-ALUNOS
    29 Junho 2014  
 
 
NOTÍCIAS DO DEPARTAMENTO

APRESENTAÇÃO PÚBLICA DE NOVOS MEMBROS DO DEPARTAMENTO


CRISTINA BARCZINSKI[1]

No dia 25 de abril, ocorreu a apresentação pública de dois novos membros do Departamento de Psicanálise: Daniel Lirio (Diagnóstico e manejo na loucura histérica) e Marcelo Soares da Cruz (Rosa e seus espinhos: reflexões clínicas sobre um percurso analítico). Na sala lotada de amigos e colegas, era grande o entusiasmo de todos com a ocasião, inclusive por parte dos membros da Comissão de Admissão, visto que há mais de um ano não havia uma apresentação. Outro motivo de comemoração foi o fato de serem dois analistas homens, grupo que hoje tem uma representação minoritária no Departamento – entre membros e aspirantes a membros, são 25 homens para 215 mulheres.

Marcelo fez a sua formação no Curso de Psicanálise do Departamento, do qual tornou-se aspirante a membro, enquanto, para Daniel, o desejo de ingressar no Departamento surgiu ao participar do Inquietações da Clínica Cotidiana,  encontro mensal de discussão clínica do grupo Espaço de Trabalho. Ambos os candidatos fizeram paralelamente seu percurso acadêmico, dedicando-se à pesquisa e ao ensino, através de seus projetos pós-graduados.

Foram apresentações com vários pontos em comum, mesmo guardadas a devidas diferenças, inclusive em termos de abordagem teórica, uma vez que Marcelo apoiou-se nos autores da Escola Inglesa, como Green e Bollas, trabalhando com a relação entre histeria e casos-limite, enquanto Daniel mostrou-se afinado com o pensamento lacaniano, com ênfase na obra de Jean-Claude Maleval e seu estudo da loucura histérica. Os casos apresentados dialogavam ente si: casos graves de histeria, em que o lugar do analista é constantemente desafiado e, diante do enorme desamparo das pacientes e do risco de abandono do tratamento, existe uma necessidade constante de cuidado com o manejo. A discussão sobre o diagnóstico aconteceu nos dois casos, assim como o estabelecimento de uma forte transferência amorosa, que exigiu dos dois candidatos firmeza e cuidado, no sentido de preservar o lugar de analista. A questão ética esteve igualmente presente, especialmente no caso de Daniel, pois a melhora de sua paciente levaria a que esta pudesse ser legalmente responsabilizada por um crime. Foi de grande importância o fato deste atendimento ter se desenrolado dentro de uma instituição onde  foi possível um enfoque interdisciplinar, a ponto de a paciente poder questionar a medicação psiquiátrica e ter seu pedido de suspendê-la por algum tempo atendido. A paciente analisada por Marcelo no consultório vinha de uma longa história de internações e tentativas de suicídio, na qual a presença implicada do analista possibilitou que a memória e a palavra ganhassem espaço, no lugar das atuações violentas e relações adictivas.  

As apresentações foram acompanhadas com grande interesse por todos nós e trouxeram a lembrança do escrito de uma analista admirável, Radmila Zygouris: “Julgo importante que o outro saiba que, sob o hábito do analista, há um alguém que se engajou, se implicou pessoalmente na viagem empreendida. Nem sempre é algo fácil: e o que é ainda mais difícil, embora fundamental, é aceitar viver a angústia”[2].  
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[1] Da equipe editorial do Boletim Online.
[2] Radmila Zygouris, Pulsões de Vida. São Paulo: Ed Escuta, 1999, p. 92.



 
 
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