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    JORNAL DIGITAL DOS MEMBROS, ALUNOS E EX-ALUNOS
    32 Novembro 2014  
 
 
NOTÍCIAS DO CAMPO PSICANALÍTICO

SOBRE O LANÇAMENTO DE SABINA SPIELREIN, UMA PIONEIRA DA PSICANÁLISE


 EQUIPE EDITORIAL DO BOLETIM ONLINE

 

Em 26 de setembro aconteceu, na Casa das Rosas da avenida Paulista, em São Paulo, o lançamento do volume I das obras completas da psicanalista russa Sabina Spielrein, organizadas e comentadas pela colega Renata Udler Cromberg. Prefaciada por Silvia Leonor Alonso, a obra vem sendo divulgada pela editora Livros da Matriz através do release que o Boletim publica a seguir, renovando felicitações pelo significativo empreendimento.

 
A ausência quase total de Spielrein em obras fundamentais de história da psicanálise até a década de 1990 faz emergir várias questões. Anteriormente limitada a uma nota de rodapé escrita por Freud em Além  do princípio do prazer, e inicialmente estigmatizada como apenas uma discípula do mestre Jung, além de ligeiramente desqualificada por ser mulher e por ter estado em intenso sofrimento psíquico, teve seus textos publicados em destacadas revistas de psicanálise, mas isto não foi suficiente para o reconhecimento do seu aporte conceitual à psicanálise. Tampouco do significativo lugar que ela ocupou num momento de construção e de expansão da psicanálise.

A publicação de Sabina Spielrein – uma pioneira da psicanálise, livro híbrido de obras completas, biografia intelectual e edição crítica, vem preencher a lacuna que ainda existe.

Neste primeiro volume, organizado, anotado e com textos críticos da psicanalista Renata Udler Cromberg, encontramos alguns de seus textos fundamentais: Sobre o conteúdo psicológico de um caso de esquizofrenia, o relato minucioso do tratamento de uma paciente atendida por ela em Burghölzli; A destruição como origem do devir, sobre o componente de morte contido na pulsão sexual, texto que antecipa o conceito da pulsão de morte de Freud; e A sogra, sobre filiação e a maternidade como eixos centrais da constituição do feminino. Também uma carta de Sabina a Carl G. Jung, de 1917, expondo sua concepção do aparelho psíquico.

O segundo volume, previsto para 2015, será composto por ensaios sobre o conhecimento do psiquismo infantil, a origem da linguagem, o pensamento e a noção de tempo na criança: Contribuições para o conhecimento da alma infantil (1912), A origem das palavras infantis “papai” e “mamãe” (1922), Algumas analogias entre o pensamento da criança, o do afásico e o pensamento subconsciente (1923) e O tempo na vida psíquica subliminar (1923) e 23 artigos curtos escritos de 1913 a 1931. O terceiro volume será composto por três análises: da relação amorosa, amistosa e intelectual entre ela e Jung, através de correspondência trocada entre eles em dois períodos, de 1908 a 1912 e de 1917 a 1919, da relação de amizade e confiança profissional entre ela e Sigmund Freud, através da correspondência trocada entre 1909 a 1923 e das possíveis causas do esquecimento da importância e do pioneirismo de Sabina Spielrein na história da psicanálise.

Sobre Sabina Spielrein

Sabina Nikolajevna Spielrein nasceu em 1885, em Rostov, na Rússia. Depois de uma educação tradicional para meninas de classe alta, uma crise psicológica leva sua família a buscar ajuda no exterior. Acompanhada por sua mãe, vai para a Suíça e interna-se na Clínica Burghölzli, em Zurique, no dia 17 de agosto de 1904, aos 19 anos. É encaminhada para tratamento com um jovem médico, alguns anos mais velho que ela, o doutor Carl Gustav Jung.

Em 1906, Sabina torna-se um misto de paciente e amiga de Jung. Em 1908, sua amante. Termina a faculdade em 1911, publicando sua dissertação O conteúdo psicológico de um caso de esquizofrenia (Dementia praecox). É a primeira mulher da história a se formar como doutora em medicina abordando um tema psicanalítico. Nesse mesmo ano vai para Munique, após o término de sua relação com Jung. Depois vai para Viena, encontrar-se com Freud. É aceita como membro da Sociedade Psicanalítica e apresenta A
destruição como origem do devir
, que seria publicado em 1912.

Vai morar em Berlim, em 1913, quando tem a primeira filha. Entre 1912 e 1914, publica vários trabalhos nas revistas de psicanálise. No conflito entre Jung e Freud, fica ao lado de Freud, mas é sempre vista como aliada de Jung. Em 1920, muda-se em seguida para Genebra para trabalhar no Instituto de Psicologia Experimental e de Investigação do Desenvolvimento Infantil Jean Jacques Rousseau. Torna-se analista de Jean Piaget – então com pouco mais de 20 anos – e escreve sobre o desenvolvimento da linguagem nas crianças.

Em 1923, aos 39 anos, volta à Rússia, onde recebe tratamento destacado das autoridades do Partido, apoia a fundação da primeira Associação Psicanalítica na Rússia e começa a trabalhar no Instituto Estatal de Psicanálise, em Moscou. Após a ascensão de Stalin, em 1926, a psicanálise perde a proteção estatal e cai em desgraça. Ainda ensina psicanálise na Universidade de Rostov, até a proibição oficial em 1933. Sabina Spielrein morre em 1942, fuzilada pelos nazistas, na mesma cidade em que nascera.
 
Para saber mais:

Renata Udler Cromberg. O amor que ousa dizer seu nome. Sabina Spielrein – pioneira da psicanálise. Tese de doutoramento. Departamento de Psicologia Social e do Trabalho. Instituto de Psicologia. Universidade de São Paulo. Orientador: Nelson da Silva Júnior. São Paulo, 2008. http://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/47/47134/tde-19052008-163016/publico/Cromberg.pdf.

 

Renata Udler Cromberg. Uma ruptura tão perigosa. Boletim Online 23, novembro de 2012: http://www.sedes.org.br/Departamentos/Psicanalise/index.php?apg=b_visor&pub=23&ordem=21&origem=ppag

 




 
 
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