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    JORNAL DIGITAL DOS MEMBROS, ALUNOS E EX-ALUNOS
    34 Junho 2015  
 
 
O MUNDO, HOJE

No último sábado do mês de março o Memorial da Resistência, na Estação Pinacoteca, abriu a exposição Ausenc’as, com conceito, curadoria e fotografia do argentino Gustavo Germano (1964- ). A exposição é composta de 28 fotografias, apresentadas em 14 pares – 12 de famílias vítimas da ditadura civil-militar no Brasil (1964-1985) e 2 da série original, Ausenc’as, de famílias argentinas que também tiveram seus entes queridos mortos e desaparecidos naquele país (1976-1983). Cada par é formado por uma fotografia procedente de álbuns de familiares, contraposta ao retrato recentemente realizado pelo fotógrafo. O diretor técnico da Pinacoteca do Estado, Ivo Mesquita e a Coordenadora do Memorial da Resistência de São Paulo, Kátia Felipini Neves, acreditam que “a mostra Ausenci’as (de 28 de março a 12 de julho de 2015) será apresentada em boa hora, quando mais que nunca é preciso reafirmar a valorização dos princípios democráticos, tão necessários ao respeito aos direitos humanos”.



UM LONGO CAMINHO[1]



GUSTAVO GERMANO


A primeira versão de Ausenc’as nasceu em outubro do ano de 2007. Foi produto de um longo processo de busca para representar, tornar visível através do recurso do paralelo fotográfico a “presença das ausências” dos assassinados e presos-desaparecidos da última ditadura civil-militar da Argentina.


Por conta do projeto, voltei para a Argentina 30 anos depois do golpe militar de 1976 e, partindo do material fotográfico dos álbuns familiares, acompanhei com a minha câmera os familiares e amigos procurando os mesmos lugares onde foram tiradas aquelas fotografias. Assim, em condições similares, voltamos a produzi-las: agora com a dolorosa presença da ausência do ser querido.

Logo depois de várias experiências de exposições nos países vizinhos, cresceu a ideia de colaborar na visualização das vítimas e na luta pela Memória, Verdade e Justiça dos familiares, com novas séries ampliatórias e complementárias para a Argentina, em outros países da America Latina, especialmente nos países onde se executou a Operação Condor[2].

Em 2012 concretizamos a produção e apresentação da série Ausências Brasil, contando para isso com o apoio dos familiares e amigos de doze militantes desaparecidos durante a ditadura civil-militar que subjugou o Brasil de 1964 a 1985.

Viajando do estado do Ceará até o Rio Grande do Sul, conseguimos chegar nestes trabalhos que apresentamos hoje. Aqui vemos as mudanças no entorno e o passar dos anos de um impossível paralelo de presença e ausência.

O projeto foi realizado com o apoio da Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República do Brasil, e o trabalho de produção foi da Associação ALICE e a coordenação geral ficou a cargo de Luciano Piccoli.

Agradeço a todos os familiares que confiaram e apoiaram este projeto:

Iara Xavier Pereira, Suzana Keniger Lisboa, Maria do Amparo Almeida Araújo, Tânia Gurjão Farias, Marcelo de Santa Cruz Oliveira, Ilda Martins da Silva, Virgílio Gomes da Silva, Gregório Gomes da Silva, Sonia Haas, Elena Haas, Bernardo Kucinski, Lorena Moroni Girão Barroso, Carlos Alberto José de Carvalho, Milke Waldemar Keniger, Simone Fomtemele de Vasconcelos Soares, Maria José Mendes de Almeida Araújo, Ana Lúcia Valença de Santa Cruz Oliveira, Ana Carolina Valença de Santa Cruz Oliveira, Ana Maria Valença Maia, João de Deus Rocha, João Luiz Cardoso Rocha, Maria do Carmo Cardoso Rocha, Annette Cardoso Rocha, Eduardo Cardoso Rocha, Maria Letícia Rocha Pimenta, Maria de Lourdes Cardoso Rocha Saraiva Teixeira, Maria Luiza Rocha de Faria, Ernesto José de Carvalho, Luiz Afonso Lick, Roberto Luiz Haas e Delmar Antonio Linck.



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[1]Este texto corresponde ao publicado no folheto da exposição e sua divulgação neste Boletim contou com a devida autorização do autor, a quem somos gratos.

[2]A Operação Condor, nome da força internacional na qual intervieram os serviços de inteligência dos países sul-americanos – Argentina, Chile, Uruguai, Brasil, Paraguai, Bolívia - , teve como objetivo o intercâmbio de informação sobre as pessoas “subversivas” residentes nestes países. A Operação Condor permitiu que as forças armadas e paramilitares dos países do Cone Sul se movessem livremente no território de outros para sequestrar, fazer desaparecer ou assassinar cidadãos considerados sediciosos.




 
 
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