ANA CAROLINA DE PAULA SANTOS[1]
No dia 15 de maio assisti Marcia Cristina Curtolo Bom apresentar seu trabalho para a admissão ao Departamento de Psicanálise, As vicissitudes de um processo analítico, onde a relação primária, mãe-filho, é determinante, escrita inédita e original de um caso clínico.
A apresentação foi sexta-feira à noite e o que poderia parecer cansativo foi, na verdade, um grande prazer. Parecia que vendo ela ali, falando, era como se eu também estivesse um pouco ali também, já que nos formamos juntas no curso de Psicanálise do Departamento.
Marcia, que trabalha há muitos anos junto a uma médica obstetra em casos de gravidez de risco, e também com mulheres acometidas por doenças graves durante o período gestacional, escolheu, para seu trabalho, falar do caso de um paciente do sexo masculino.
Apoiada nas teorias de Silvia Bleichmar, Joyce McDougall, Luis Hornstein e outros, o caso apresenta um homem com questões primárias de fusão com uma mãe invasiva, e que se vê impossibilitado de se diferenciar e de definir sua posição sexual. A condução do trabalho, evidentemente mais focada na construção do eu do que na preocupação com a questão da diferenciação sexual, é prova e mostra de sua delicadeza enquanto analista. Em nenhum momento Marcia fala de homossexualidade. Aposta na transferência e trabalha com ela, fazendo história com aquilo que não era possível de ser pensado. Vimos o processo analítico se dar em toda a sua força. Marcia mostra como o espaço analítico pode contribuir para a construção do narcisismo. A partir daí, o paciente desenvolve a possibilidade de garantir seus espaços de privacidade, onde ele pode enfim, estar só, e onde possa, finalmente, viver sua sexualidade.
Posso dizer com orgulho que acompanhei a construção dessa analista. Parabéns, Marcia!
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[1]Psicanalista, ex-aluna e candidata a membro do Departamento de Psicanálise, integrante do grupo de trabalho Sexta Clínica.