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    JORNAL DIGITAL DOS MEMBROS, ALUNOS E EX-ALUNOS
    36 Novembro 2015  
 
 
NOTÍCIAS DO CAMPO PSICANALÍTICO

SOBRE A III JORNADA CLÍNICA DE PSICOSSOMÁTICA PSICANALÍTICA



ALINE EUGÊNIA CAMARGO[1]



No dia 3 de outubro foi realizada a III Jornada Clínica de Psicossomática Psicanalítica, organizada pelo Projeto de Atendimento e Pesquisa em Psicossomática da Clínica Psicológica do Sedes. Como nas versões anteriores, foi um evento centrado na discussão de casos clínicos, através de duas mesas e de uma conferência com a analista Maria Helena Fernandes. Os casos apresentados foram atendidos no Projeto e tiveram como interlocutores analistas convidados como debatedores. Entre os participantes havia muitos colegas do Departamento e outros analistas de diferentes inserções no Instituto, bem como fora dele.

No evento também foi realizado o lançamento do livro Psicanálise e Psicossomática, casos clínicos, construções organizado por Ana Maria Soares, Cristiana Rodrigues Rua, Rubens Marcelo Volich e Maria Elisa Labaki. O foco, assim como na Jornada, é o trabalho clínico, e apresenta, além de artigos dos membros do Projeto, trabalhos de convidados que atuam há muito tempo na área e que possuem de algum modo um vínculo com  este.

Jornada e livro vêm recolocar a importância do trabalho de pesquisa a partir de relatos de casos, especialmente aqueles que representam desafios para nossa clínica. Outro aspecto relevante do evento e do livro é como o campo da psicossomática mobiliza a interface da psicanálise com a medicina. Com a ascensão das correntes médicas organicistas, esse tema ganha maior relevância. Faz-se necessária a produção e a divulgação de trabalhos que integrem a atuação dos profissionais de ambas as disciplinas.

O tema da Jornada – Graves e agudos: modulações do sofrimento, reflexões clínicas sobre a dor crônica, a doença de Crohn e outras desorganizações psicossomáticas -, utilizando-se de uma metáfora musical, nos introduz na dimensão da escuta, particularmente de uma clínica na qual nem todos os sons são audíveis pela fala. Todos os casos apresentavam desorganizações graves da economia psicossomática, em que a vida do paciente estava em risco ou portava uma dimensão incapacitante.

Na primeira mesa - Quando a cronicidade dá o tom - foram apresentados dois casos de pacientes com dor crônica, patologia que desafia nossa escuta, na qual a dor física vem substituir a expressão da dor psíquica. Na segunda mesa - As dissonâncias do agudo - o debate se deu a partir de um caso de uma mulher portadora da doença de Crohn, doença grave e bastante incapacitante. Como é comum nesses casos, nos defrontamos com histórias de experiência traumáticas: ora de abandono, ora de muita violência familiar, que se repetem ao longo da vida dos sujeitos.

São casos que exigem uma especial dedicação do analista, pois envolvem aspectos psíquicos arcaicos e manejos transferenciais difíceis. Ambos exigem do analista muita perseverança no estabelecimento do vínculo e uma capacidade de suportar a intensidade dos aspectos destrutivos na transferência. Esse trabalho, que cumpre uma função materna, exige um suporte para o analista. Suporte este que, com muita dedicação, é garantido pelo Grupo do Projeto em sua atividade clínico-institucional.

As apresentações produziram um amplo debate com o público, a partir da rica exposição da história desses tratamentos. Os debatedores convidados, com seus enfoques, contribuíram generosamente em falas referenciadas em Ferenczi, Abraham e Torok, Green, Winnicott ou nos autores da psicossomática psicanalítica da Escola de Paris, como Marty e Kresler, entre outros. Fernandes, analista com longa experiência de trabalho e produção no campo da psicossomática, encerrou a Jornada brindando-nos com importantes aspectos teóricos das questões do corpo na psicanálise em conferência intitulada A escuta psicanalítica do corpo doente.

No evento, produziu-se uma rica composição no auditório, lotado por um público heterogêneo. Colegas de diferentes origens e inserções institucionais estavam presentes. Esse fato, a meu ver, deve-se a heterogeneidade da equipe, bem como do próprio Instituto. A multiplicidade na composição do Projeto, que inclui psicanalistas, médicos e uma terapeuta corporal, assim como a inserção deste na Clínica do Sedes, lugar marcado pela diversidade de abordagens e pelo contexto de transversalidade institucional, garantem ao Projeto uma ampla rede de relações e interlocuções institucionais no campo da Saúde.

Nesse encontro, pudemos ouvir os graves e agudos próprios aos pacientes com doenças somáticas. Através destes relatos, estes sons inaudíveis poderão reverberar em nosso fazer teórico-clínico, produzindo pensamentos e ideias criativas para uma necessária renovação no campo psicanalítico.

São membros do Projeto de Atendimento e Pesquisa em Psicossomática:  Ali I. Ayoub, Ana Maria Soares, Anna Silvia B. P. Rotta , Clara C. Castro, Claudia Regina Mello, Cristiana R. Rua, Denise D. Moreira, Maria José Rodrigues da Cruz, Monica Moromizato, Rosa J. Corrêa Netto, Rosângela P. da Fonseca, Vanderlei Camargo Freitas. Supervisor: Rubens M. Volich.

O Projeto contou com os seguintes convidados: Claudia J. Monti Schönberger, Maria Luiza Ghirardi,  Myriam Uchitel, Sonia Maria Rio Neves, Denise A. Steinwurz, Decio Gurfinkel e Maria Helena Fernandes.

 

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[1]Psicanalista. Membro do Departamento de Psicanálise do Instituto Sedes Sapientiae




 
 
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