Para Eliane Berger (1961-2017).
Porque onde há luta se inscreve sua memória
E então, dos muitos diferentes lugares que nos ocupam, escutamos que estava suspensa a liberdade de escolher os trajetos culturais que percorreríamos com as crianças. E meninos e meninas choraram em São Paulo à porta da arena onde a censura lhes impôs a incalculável distância de Paul, o Beatle que elas não puderam encontrar. E cross-dressers precisaram contar com suas aulas de artes marciais para comparecerem tranquilos, sobre seus saltos altos de glitter, à abertura da exposição em torno das Histórias da sexualidade... Ô tristeza, a desses tempos. Ô beleza, a dessas lutas.
Na 6a feira abrimos o jornal e lemos o filósofo explicar que "só a liberdade que a arte procura realizar, só a transformação que ela produz em nossa gramática de afetos e em nossa percepção" é capaz de retirar a vida política de sua miséria, transmutando subjetividades. No dia seguinte, fomos juntos ao cinema pra ver de novo o Hotel Cambridge estreado na Mostra Internacional do ano que passou. E a conversa potente estrelou Carmens e Elianes, Carlas e Soraias, Maras e Manias, Anas, Denises e Fátimas, Alês e Elôs, Mirians e Christianas, Juliáns, Pedros e Heidis... nosso coletivo pela cidade.
Hoje comemoramos a realização do 10o Colóquio de monografias dos alunos do Curso de Psicanálise, a chegada de Maria Inês e Lúcia como novos membros do Departamento, o lançamento do livro O racismo e o negro no Brasil: questões para a psicanálise, nossa participação nos 40 anos do Sedes e a empolgante indicação de nosso livro – Ditadura civil-militar no Brasil: o que a psicanálise tem a dizer – ao prêmio Jabuti. Gratos aos diversos colegas que se empenharam na busca das palavras justas com as quais exprimir a posição de nosso Departamento, repercutimos a alegria diante das centenas de assinaturas ao Manifesto contra o preconceito e a discriminação dispondo aqui imagens e sons do vídeo Controversa, da compositora Adriana Deffenti e da cantora Valeria Houston – figuração estética que irradia a liberdade de seguirmos nos surpreendendo com a presença do espontâneo em nós.
Por fim, desejamos que nossa desnaturada psicanálise sustente a decifração dos enigmas contemporâneos que nos cabe enfrentar. Que as figuras da arte, como um saber-fazer veredas, levantes, intervalos comuns, ocupem nossa 44a edição. Por novas manhãs multicores, femininas tardes sem ódio e orientais noites controversas!
Que a primavera acenda a música da paixão e 2018 seja bom de novo.
Grande abraço da
Equipe editorial
Cristina Barczinski, Elaine Armênio, Maria Carolina Accioly, Mario Pablo
Fuks, Nayra Ganhito, Sílvia Nogueira de Carvalho e Tide Setúbal.