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    JORNAL DIGITAL DOS MEMBROS, ALUNOS E EX-ALUNOS
    45 Abril 2018  
 
 
EDITORIAL

EDITORIAL


Você só se conhece conhecendo o mundo. Somos um fio nesse imenso tapete cósmico. Mas haja saco!

Meu Deus, meu Deus, está extinta a escravidão? Ainda comemorávamos o CarnavAto da Paraíso do Tuiutí quando a truculência anunciada para 2018 veio se encorpar na intervenção militar no Rio, recolocando violência e eleição nas vitrines temáticas do país. No instante em que iniciávamos os debates, entre as certezas duvidosas e as radicais, escutamos tiros. Em meio a tantos lutos, um nome - Mariellle - se destacou. Mulher, negra, cria da Maré, parte da comunidade LGBT - quantas lutas num só corpo! -, ela que ousou romper com seu destino estatístico, ao estudar e politicar, foi precocemente devolvida a ele por quatro disparos implacáveis. Destino injusto, revoltante, insistente, triste. Como vereadora e líder social, Marielle Franco significava uma mudança crucial na forma de fazer política de defesa dos direitos humanos, aprofundando a democracia, tornando a política representativa, inovadora, fortemente inclusiva e de mobilização e reconhecimento dos movimentos sociais. Por isso precisava ser eliminada, para semear-se o terror nos indivíduos, coletivos e comunidades representados e identificados com ela.

Essa tragédia indivíduo-social nos fez rememorar o precioso texto: “O pacto edípico e o pacto social”, de Helio Pellegrino, quando sua morte completou 30 anos, no último dia 23 de março. Em sua homenagem, a epígrafe deste editorial. Seguimos com o desafio, mais vivo do que nunca, de recriar um pacto social alteritário, que coloque a esfera pública no centro da análise social e suspenda o recalque de nossos históricos conflitos de classe, insidiosamente deslocados da discussão política em prol dos fantasmas policiais da corrupção estatal e do crime organizado.

Como criar condições na nossa sociedade para que outras Marielles continuem vivas e potentes para transformar o mundo? Pela suspensão dos atos assassinos, com David Byrne diga o nome dela: What the hell are you talking about? Pela prática da reflexão autônoma presente entre nós, ao reafirmarmos, no tema do racismo e o negro no Brasil, questões para a psicanálise. Pela valorização dos laços de solidariedade, lembrando, com Jessé Souza, que tudo que foi feito por gente também pode ser refeito por gente.

De ouvidos e olhos bem atentos ao nosso tempo, aqui queremos portanto insistir em uma psicanálise que desvele preconceitos inconscientes, expanda levantes femininos e feministas, grite pelas questões da cultura e da política, reflita sobre os corpos e as vidas tão em trânsito hoje. Nessa interminável tarefa de elaborar, para arrancar alegria ao futuro - como nos disse Maiakóvski - seguimos com a escrita viva, adensando manifestações, reafirmando caminhos que possam corromper destinos aparentemente inexoráveis, criando um tecido de palavras para resistir. Nem partir, nem ficar, resistir.

Com abraços da

Equipe editorial

Cristina Barczinski, Elaine Armênio, Maria Carolina Accioly, Mario Pablo Fuks,
Nayra Ganhito, Sílvia Nogueira de Carvalho e Tide Setúbal.




 
 
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