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    JORNAL DIGITAL DOS MEMBROS, ALUNOS E EX-ALUNOS
    45 Abril 2018  
 
 
NOTÍCIAS DO DEPARTAMENTO

QUESTÕES SOCIAIS E POLÍTICAS NA HISTÓRIA DA PSICANÁLISE: ONTEM E HOJE: ABERTURA DO EVENTO


CHRISTIANA CUNHA FREIRE [I]



Bom dia. Estou aqui como articuladora da área de eventos do Conselho de Direção, na gestão 2017/2018. Represento a comissão organizadora desse evento, formada por Noemi Moritz Kon, Renata Udler Cromberg, Cristiane Curi Abud, Claudia Justimonti, Cristina Herrera e por mim.

Gostaríamos primeiramente de dar as boas-vindas a todos e agradecer ao Conselho de Direção pelo apoio para a realização desse evento, e à Claudia Dametta, secretária do Departamento, pelo trabalho realizado.

Agradecemos também ao Instituto Sedes Sapientiae por acolher nossa proposta. Ao longo de sua história, o nosso instituto tem sido responsável por incitar projetos engajados à realidade social e política, sustentando produções compromissadas com o desenvolvimento do pensamento crítico.

Agradecemos ainda aos nossos palestrantes e mediadores por aceitarem o convite para a realização desse evento.

O Departamento de Psicanálise dá início às suas atividades em 2018 com o evento Questões Sociais e Políticas na História da Psicanálise: ontem e hoje.

A proposta desse evento surgiu do desejo de tornar púbicos estudos recentes sobre alguns autores que fazem parte da História da Psicanálise, e que foram de alguma maneira esquecidos, tendo suas produções desconsideradas.

Se por um lado suas produções foram ignoradas pelo próprio movimento psicanalítico, por outro, acontecimentos históricos determinaram o rechaço de importantes elaborações de confederações psicanalíticas inseridas em contextos políticos autoritários.

Assim, Otto Gross, Sabina Spielrein, Frantz Fanon e Erich Fromm tiveram por algum tempo seus pensamentos divulgados e reconhecidos, mas num segundo momento suas marcas desapareceram da História da Psicanálise. Desta forma, em diferentes circunstâncias e momentos históricos, por discrepâncias políticas e conflitos com os regimes vigentes, esses autores foram de certa maneira apagados da História.

Esse fato ficou encoberto, não tendo sido objeto de reflexão por um longo período. Foram necessárias décadas para que os acontecimentos históricos fossem revelados e questões a respeito do sentido desse apagamento pudessem começar a ser formuladas e pensadas por diversos psicanalistas.

Neste contexto situam-se as pesquisas que serão apresentadas no nosso evento. Deivison Nkosi, Marcelo Checchia, Maria Silvia Bolguese, Oswaldo Duek Marques, Paulo Sérgio de Souza Jr., Rafael Alves Lima e Renata Udler Cromberg com efeito refletiram e escreveram a respeito do pensamento dos autores mencionados que ficaram à margem da História, numa perspectiva de tentar compreender e reconstruir o que aconteceu.

Se na história da psicanálise há uma força recalcadora que faz esquecer a produção de tais autores, existe ao mesmo tempo uma força revolucionária que, mesmo diante de situações adversas, sustenta, num clima de liberdade, produções criativas tais quais a invenção da policlínica e a associação da psicanálise com o Estado.

Não precisamos de muito esforço para associar essa história tão longínqua à nossa história atual. Basta recordarmos que hoje temos uma tarefa de mesma natureza a ser realizada; tarefa inadiável que, felizmente, vem ganhando força a partir de esforços de várias frentes, tarefa de trazer à tona as atrocidades vividas em nosso país: violências no período de 350 anos de escravidão, a perpetuação do racismo na sociedade atual, a dizimação da população indígena, a violência do período colonial e a ditadura militar. Histórias do passado que, por não terem sido amplamente reveladas e elaboradas, se impõem ainda no presente, atualizadas em novas formas de violência, insistindo para que ganhem representabilidade no campo social.

A complexa realidade atual nos convoca para que a psicanálise ocupe o espaço público, repense seus conceitos e formas de atendimento a partir de uma psicanálise para todos, não só com suas teorias, mas através de sua prática de atendimento na rua, no campo de refugiados, com populações marginalizadas, com as questões raciais.

Otto Gross, Sabina Spielrein, Frantz Fanon e Erich Fromm, entre outros não citados aqui, tiveram a coragem e quiseram saber sobre o que se passava à sua volta, trabalharam no campo social e político e não se mantiveram colados ao que estava instituído. Pelo contrário, promoveram mudanças sociais e subjetivas significativas, evidenciando a força de transformação de que é capaz a invenção psicanalítica.

Esperamos que os estudos recentes feitos por nossos palestrantes, sobre os primórdios da psicanálise e a psicanálise nos anos 50, possam nos ajudar a elaborar importantes e complexas questões que temos enfrentado nos dias de hoje.

Nosso Evento será realizado em dois momentos:

No primeiro momento, hoje, dia 3 de março, teremos:

Na mesa 1 a conferência de Marcelo Checchia: Introdução ao pensamento de Otto Gross que acontecerá até as 12h30. E
Na mesa 2 das 14h30 às 17h30 teremos a conferência de Paulo Sérgio de Souza Jr: A psicanálise e os lestes e a conferência de Renata Cromberg: Psicanálise na Rússia Soviética e a luta de Sabina Spielrein.

Num segundo momento, no dia 9 de junho, teremos:

Na mesa 1 a conferência de Deivison Nkosi Faustino: Colonialismo, racismo e emancipação: O pensamento de Frantz Fanon e na mesa 2 conferências de Oswaldo Duek Marques: Contribuições para a compreensão do nazismo: A Psicanálise e Erich Fromm.

No período da tarde, na mesa 3 teremos a Conferência de Rafael Alves Lima: Clínicas públicas nos primórdios da psicanálise e a conferência de Maria Silvia Bolguese: Clínicas públicas nos primórdios da psicanálise: reflexos na atualidade.

Dia 29 de 0utubro teremos um outro evento que está sendo elaborado sobre a clínica pública na atualidade que se articula com esse, sendo um desdobramento do trabalho desenvolvido no primeiro semestre pelos nossos conferencistas.

Os livros dos autores, nossos palestrantes, estarão à venda durante o evento.

O café servido pela manhã é de Gabriel Zei, cozinheiro educador. Trabalha na cozinha pública da Vila Itororó...

Esperamos ter um dia produtivo de trabalho e desejamos um bom evento a todos.



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[I] Psicanalista, membro do Departamento de Psicanálise do Instituto Sedes Sapientiae, professora do curso Clínica Psicanalítica: Conflito e Sintoma, articuladora da Área de Eventos no Conselho de Direção, gestão 2017-18.




 
 
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