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    JORNAL DIGITAL DOS MEMBROS, ALUNOS E EX-ALUNOS
    50 Junho 2019  
 
 
NOTÍCIAS DO DEPARTAMENTO

30 ANOS DE PERCURSO


Flávio Ferraz [i]



“É com grande prazer que o Departamento de Psicanálise do Instituto
Sedes Sapientiae
o convida para o lançamento da sua revista Percurso
(Ano I – no 1 – 2º semestre de 1988).
Segunda-feira, 21 de novembro às 21 horas
Local: Auditório do Instituto Sedes Sapientiae
Após a apresentação de Percurso haverá um coquetel.”

 



Este era o texto do convite histórico.

No dia seguinte ao evento que comemorou os 30 anos de Percurso, ainda sob o forte clima emocional da véspera, pus-me a procurar pelo antigo convite. Lembrava-me dele, que me rondou intermitentemente nesses 30 anos que nos separam da festa inaugural. Reencontrei-o por diversas vezes, mas sempre o deixava ali, quietinho, encerrado entre as páginas de um livro que, agora, custava a recordar qual seria. Calculei que fosse algum dos tomos das obras completas de Freud. Fui folheando os diversos volumes da surrada coleção da Imago. Era provável que o documento procurado estivesse em algum texto que eu estava a estudar no ano em questão, 1988, quando cursava o primeiro ano do Curso de Psicanálise. Dito e feito. O convite para o lançamento do número inaugural da revista marcava o capítulo 7 de A interpretação dos sonhos.

Conto essa pequena história porque, convidado pelo Boletim para redigir essas poucas linhas, logo percebi que não me seria possível fazê-lo de outro modo que não o relato eminentemente pessoal. Naquele ano de 1988 eu me encontrava no começo do Curso de Psicanálise, rodeado de tantos colegas, com quem ainda convivo no Sedes, e de professores que hoje são queridos colegas. Encontrávamo-nos imensamente entusiasmados com o início da formação, com o futuro pela frente e orgulhosos de termos sido aceitos no Sedes, que queríamos que se tornasse nossa casa. E um motivo a mais havia para esse orgulho: a partir daquele momento teríamos nossa própria revista. A mais bonita revista de psicanálise do país, com aquela capa trazendo uma obra de arte. De algum modo, éramos confiantes de que, além de bonita, a nossa revista também seria uma das melhores em sua qualidade científica e editorial. Sonhávamos com o dia em que teríamos um artigo publicado. A revista desejada já existia.

Por muitas razões, o evento do dia 30 de março de 2019 foi emocionante para nós: pelo reencontro com colegas que conhecemos e admiramos há 30 anos; pela gratidão ao tempo curvo que ali nos reunia de novo, no mesmo lugar; mas também pelo fato de constatarmos que a nossa intuição quanto ao sucesso da Percurso e ao espaço que ela ocuparia na literatura psicanalítica no Brasil estava certa.

Ali estava a revista em peso, balzaquiana e viva, muito viva.

Dessa vez, o texto para o convite (agora eletrônico, e não mais em papel), dizia:

Sábado, 30 de março de 2019:
“Comemorar o número 60 da Percurso é festejar 30 anos de um projeto coletivo. O primeiro editorial da revista já apontava: Pensar a Psicanálise como algo que se historiciza, que se inscreve no cruzamento de determinações psíquicas, sociais, temporais, - isto nos põe de acordo com as concepções que norteiam a instituição à qual pertencemos.”

 



Vejam aí o trecho do editorial do primeiro número a me dar razão. A revista cumpriria seu objetivo e sua promessa. Por isso, a emoção que tomava conta desse coletivo ali presente não era, nem de longe, nostálgica ou saudosista. Era um sentimento de celebração no mais puro sentido da palavra. Claro, havia também como ingrediente uma espécie de orgulho pela nossa instituição, que nesses anos nunca de deixou de ser coerente como seu ideário. Percurso nasceu e cresceu com a cara do Departamento de Psicanálise.

Confirmando essa impressão, as falas que pontuaram a comemoração não poderiam ter sido mais atuais. Na primeira mesa do dia, Camila Salles Gonçalves recolocou a Psicanálise diante do problema da violência contemporânea, particularmente no momento político difícil que o país atravessa. Ana Helena de Staal situou-nos dentro da desenfreada revolução tecnológica face às alterações nas subjetividades e nas relações sociais. Na segunda mesa, Fernando Urribarri desenhou o quadro histórico e epistemológico que nos engendrou como instituição situada em certa tradição psicanalítica, desde a revolução lacaniana e seus desdobramentos. E Miriam Chnaiderman trouxe a história viva e vivida do Departamento, desde os antecedentes de sua fundação. Como pude comentar no debate, saímos dali com um pouco mais de consciência sobre nossa identidade. Tivemos, num evento particularmente fértil e rico, a possibilidade de obter um insight sobre nós mesmos, o que somos e por que o somos.

No fim, um coquetel, como no 21 de novembro de 1988. No mesmo lugar, e tão saboroso quanto o original.

Não há como finalizar senão agradecendo a todos que, com seu árduo trabalho, fizeram Percurso existir e ser o que é nesses 30 anos, dando oportunidade à publicação de trabalhos de membros do Departamento e ajudando a criar e consolidar entre nós o hábito da escrita. E também trazendo para mais perto a colaboração de psicanalistas de fora da instituição e do país.

Não seria possível agradecer a cada um que deu sua valiosa colaboração. Que se sintam todos reconhecidos pelo agradecimento que faço a Renato Mezan, incansável maestro dessa orquestra.



[i] Psicanalista, membro do Departamento de Psicanálise do Instituto Sedes Sapientiae, professor do Curso de Psicanálise.




 
 
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