GRUPO FACES DO TRAUMÁTICO
Nos dias 12 e 13 de abril, o Grupo Faces do Traumático do Departamento de Psicanálise do Instituto Sedes organizou um evento acompanhando a recente tradução e publicação do livro Trabalho da testemunha: testemunho e experiência traumática de Mariana Wikinski.
O evento pretendeu explorar, num primeiro momento, à luz de questões colocadas no livro e no filme Orestes, do diretor Rodrigo Siqueira, as relações possíveis entre a Psicanálise e o Direito. Em síntese, podemos dizer que nossa atenção teve como foco três questões centrais presentes nos textos:
- Quais as consequências subjetivas e políticas que se geram quando os crimes de Estado não são abordados pela justiça?
- Em que medida o Direito é capaz de acolher o trauma?
- Como a psicanálise pode contribuir e se posicionar frente a estas questões?
A primeira mesa contou com a apresentação de Mariana Wikinski, intitulada: Orestes: o trauma no espaço jurídico e na memória do Brasil e da colega do Departamento, Mara Caffé, com o texto: Psicanálise e Direito, na arena de Orestes. Antes destas falas, foi projetada uma versão abreviada do filme Orestes, já mencionado. Enquanto Wikinski trouxe importantes linhas de reflexão, núcleos polêmicos e propostas sobre o tema, o texto de Caffé indagou acerca dos contrastes e semelhanças entre a Psicanálise e o Direito, aguçando esta reflexão nas interceptações entre estes dois campos.
No sábado, a segunda mesa contou com cinco palestrantes. Sob o título A voz das testemunhas, que tal como Primo Levi escreve, é o único documento da barbárie, Wikinski discutiu, entre outras colocações, premissas como: o indizível do traumático, o descrédito e credibilidade da voz das testemunhas, “o efeito automaticamente terapêutico do dizer, da palavra” e o possível valor do esquecimento. Com o trabalho Testemunhar hoje, Marcio Seligmann potenciou o valor do testemunho, destacando-o como “conceito chave”, legítimo documento da atroz “era das catástrofes”, correlata, como diz Shoshana Felman, à “era do testemunho” .
Os expositores seguintes, Paulo Endo, com o texto O sonho como testemunho e as testemunhas do sonho, e Marcelo Checchia, apresentando Quando a associação livre é interrompida pela demanda de testemunho , trouxeram textos que nos aproximaram, de maneira fecunda - através de sonhos referidos à época do nazismo e dos campos de concentração e de material de sessão durante o período eleitoral e pós eleitoral-, das vicissitudes e efeitos do trauma no espaço psíquico.
Finalizando, Camila Munhoz, representando o Grupo Faces do Traumático, apresentou o texto elaborado a partir das discussões do Grupo, escrito a 8 mãos, as dela e as de Clarissa Motta, Flávia Steuer e Marina Singer Figueiredo: Falas e ecos do trauma. O texto reflete a preocupação com a formalização teórico-clínica e a intervenção em torno do tema do trauma, encerrando com uma reflexão - que queremos agora enfatizar - sobre a responsabilidade do que toca viver individual e coletivamente em nossas vidas, com um apelo e convite para que conjuntamente possamos construir “caminhos de transformação dos gritos de horror em narrativas singulares e coletivas”.
Apostamos em um encontro com a marca do inter: inter de múltiplas nacionalidades, múltiplas instituições, disciplinas, abordagens do fenômeno psíquico. Inter de intergeracionalidade e transgeracionalidade histórica, na convicção de que, desse interjogo, possa emergir uma qualidade de reflexão e intervenção à altura da exigência da realidade.
Grupo Faces do Traumático:
Ana Helena Seixas Campo, Camila Munhoz, Clarissa Motta, Cristiane Lopes, Erica Otsubo, Flávia Steuer, Iandara Uchôa, Juliana Wierman, Maria Angelina Guimarães Cabral, Maria Carolina Garcia, Maria Inês Tassinari, Marina Singer Figueiredo, Myriam Uchitel (coord.)