CURSOS

PSICOPATOLOGIA PSICANALÍTICA E CLÍNICA CONTEMPORÂNEA


O Curso Psicopatologia psicanalítica e clínica contemporânea surgiu no ano de 1998 e se insere no processo formativo do Departamento de Psicanálise do Instituto Sedes Sapientiae.
 

Concebido inicialmente por um grupo de professores até então engajado no curso Psicoses: concepções teóricas e estratégias institucionais, foi motivado por uma reflexão sobre as novas figuras clínicas que emergiam na prática psicanalítica e que compareciam insistentemente na mídia e em congressos científicos como "novas patologias". Anorexias, quadros de pânico, várias formas de depressão, toxicomanias e distúrbios do sono eram apresentados como "novidades" diagnósticas e psicopatológicas, sobretudo através da difusão do discurso médico-psiquiátrico.

 

O curso foi estruturado tomando essas formas de sofrimento como representantes do mal-estar da época, num contexto de rápidas e profundas transformações em vários campos da vida social. Indagou-se em que medida estes quadros expressavam novos modos de produção de subjetividade ou apenas vicissitudes de formas conhecidas de subjetivação, novas roupagens para problemáticas já estudadas pela psicanálise.

 

A análise dos modelos socioculturais contemporâneos e seus ideais, das configurações subjetivas dominantes e do protótipo sadio promovido -determinante de formas tipificadas de adoecer-, permitiu problematizar psicopatologicamente tais "doenças" adotando a perspectiva da complexidade, evitando reduzi-las a estruturas invariáveis e estanques. Como representantes do mal-estar numa época de rápidas e profundas transformações, as formas atuais de sofrimento implicam desafios quanto a seu manejo clínico e seu fundamento psicopatológico. Pretendemos problematizá-las, através de diferentes eixos conceituais da psicopatologia psicanalítica, dada sua dimensão de "psicopatologia da vida cotidiana" contemporânea.

 

Desse modo, os vários aspectos dessa sintomatologia, escutados na singularidade de cada caso, abrangem um campo que pode ser referido a vários modelos conceituais: o das psiconeuroses, por um lado, e, por outro, o das neuroses atuais, das alterações do ego, das neuroses narcísicas, do traumatismo, associados por sua vez à compulsão à repetição, às falhas da simbolização e à problemática da recusa.

 

Outros temas emergiram nos seminários teóricos e nas supervisões, convocando nossa escuta. Assim estendeu-se a perspectiva complexa da psicopatologia para pensar efeitos produzidos nas subjetividades, no agir e no corpo pelos rápidos avanços tecnológicos que alteram a relação do sujeito com o espaço, com o tempo e com o outro, bem como as problemáticas emergentes relacionadas às mudanças nas relações de gênero, o avanço nas políticas neoliberais, os racismos e os fundamentalismos, entre outros.

 

O curso de aperfeiçoamento Psicopatologia psicanalítica e clínica contemporânea se organiza em dois anos. As atividades regulares consistem em seminários teóricos e supervisões semanais, num total de 198 horas/ano. O trabalho teórico é dividido em 7 módulos, cada um deles ministrado por um professor. Há também um espaço de supervisão presente durante todo o período do curso.

 

Conteúdo programático

Primeiro ano
Psicopatologia psicanalítica, narcisismo, destinos da perda do objeto, modalidades da angústia

a. Construção de uma primeira psicopatologia psicanalítica: neurose, psicose, neuroses atuais e perversão. Constituição do aparelho psíquico: marcas mnêmicas e experiência de satisfação. Dualidade pulsional. Narcisismo: constituição do Eu e formação dos ideais. Édipo: a Lei e as possibilidades identitárias.
b. Função materna e depressividade. Luto, melancolia e depressão: três maneiras distintas de lidar com a perda do objeto. Depressão hoje: neoliberalismo, desempenho e medicalização.
c. O modelo das neuroses atuais: neurose de angústia e neurastenia; a angústia (Angst) na obra freudiana: primeira e segunda teorias. Angústia na clínica contemporânea: da excitação (o somático) à pulsão (o psíquico). O traumático. Modalidades da angústia. Elaborando angústias: a força e o sentido.

 

Segundo ano
Do irrepresentável à simbolização: problemáticas contemporâneas

a. Marcas mnêmicas: o inconsciente e o processo do sonhar. Função materna na constituição do psiquismo: presença e ausência -da experiência de satisfação ao jogo do Fort-Da. Memória e temporalidade. Regressão no sono e no sonho. O sono, o sonhar e seus fracassos: insônias, pesadelos e sonhos traumáticos.
b. O irrepresentável, os excessos traumáticos e os mecanismos de recusa e recalque. Repetição e compulsão à repetição. Corpo, ato e pensamento. Acting out e passagem ao ato. Somatizações, a clínica do agir, sofrimento e repetição geracional.
c. Pulsão, narcisismo e impasses da interiorização. Dependência e impossibilidade de perda. Colapsos dos processos de simbolização, luto e constituição da alteridade. Patologias das relações de objeto e as toxicomanias e outras adicções como destino. A questão da interioridade/exterioridade nos estados fronteiriços.
d. A construção do dispositivo clínico pelo psicanalista e a pluralidade dos processos de simbolização. Função do enquadre. Clínica online. O irrepresentável, a clínica do traumático e a criação de novos dispositivos. Clínicas públicas como espaço de invenção e como concepção de psicanálise.

 

Público alvo

Psicanalistas, psicólogos, médicos e outros profissionais da área de saúde, que já possuam prática clínica e fundamentos da teoria psicanalítica, interessados na articulação entre subjetividade e contemporaneidade.

 

Quanto ao perfil dos candidatos selecionados, a equipe decidiu encarar, desde o início, um desafio de difícil manejo: acolher alunos motivados pelos objetivos e programa do curso, tendo diferentes níveis de formação teórica e/ou experiência clínica. Chegam, assim, desde profissionais que fazem uma primeira aproximação a um dos cursos do Sedes, até colegas que já finalizaram o Curso de Psicanálise, psicanalistas do Departamento que integram equipes assistenciais na Clínica etc. Essa heterogeneidade exige cuidados na programação teórica, na organização dos grupos de supervisão e no manejo da dinâmica grupal.

 

A avaliação dos alunos se dá durante o próprio decorrer das atividades, tendo como momento privilegiado a apresentação de um trabalho escrito ao final de cada ano, em que se desenvolve alguma temática relacionada ao conteúdo do curso.

 

O grupo de professores se reúne semanalmente para avaliar o trabalho, acompanhar o andamento geral do curso, apresentar os programas e a bibliografia dos diferentes módulos, bem como discutir temas relevantes do momento na cena social e política.

 

Entrada de novos professores

O curso adotou a prática de contratação de novos professores por meio de um processo aberto aos membros do Departamento de Psicanálise. O modo de funcionamento é detalhado em um edital de convocação de interessados. No primeiro processo seletivo, foi aprovada Mara Selaibe. No ano de 2023, está em curso um segundo processo de contratação via edital.

 

Outras atividades

A necessidade de uma interlocução entre pares sobre os temas de fundo levou o grupo a propor, em 2001, a criação no Departamento do grupo de trabalho e pesquisa Psicanálise e contemporaneidade, implantado naquele mesmo ano sob coordenação alternada entre os professores do curso. O grupo adquiriu gradativamente um funcionamento horizontal e continua, na atualidade, a desenvolver atividades na área de Formação Contínua.

 

O grupo de professores do curso organizou o evento Central do Brasil: Vicissitudes da subjetivação, em 1998 (publicado na revista Percurso nº 21, 2º semestre de 1998); apresentou um trabalho coletivo na "I Jornada temática sobre o Feminino", em 2001 (publicado em Figuras clínicas do feminino no mal-estar contemporâneo, Escuta, 2002) e participou da Jornada O sintoma e suas faces, elaborada em conjunto com os cursos de Psicanálise e Clínica psicanalítica: conflito e sintoma, em 2005 -publicada em 2006, sob o mesmo título (Editora Escuta). Em 2014, apresentou o texto coletivo "Que interrogantes as chamadas ‘psicopatologias contemporâneas' trazem ao campo da psicanálise?"no evento Entretantos I; em 2016, no evento Entretantos II, apresentou suas "Reflexões psicanalíticas sobre políticas de tolerância", ambos publicados no site do Departamento. Em 2022, realizou o evento "25 anos do curso Psicopatologia psicanalítica e clínica contemporânea", no marco da passagem da coordenação do curso, até então realizada por Mario Pablo Fuks, função assumida por Márcia de Mello Franco, a ser rodiziada. Em 2023, seus professores participaram do Processo formativo proposto pelo Curso de Psicanálise com o objetivo de apresentar subsídios teóricos para uma reflexão sobre os efeitos subjetivos do racismo, o racismo institucional e, sobretudo, sobre as possibilidades e (co)responsabilidades para uma formação antirracista em psicanálise.

 

Corpo Docente
Ana Lúcia Panachão, Ana Maria Siqueira Leal, Mania Deweik, Mara Selaibe, Marcelo Soares da Cruz, Márcia de Mello Franco (coordenadora), Maria Carolina Accioly de Carvalho e Silva, Mira Wanjtal, Roberta Kehdy, Tatiana Inglez-Mazzarella e professores convidados.

 

Interlocutora
Márcia de Mello Franco (mfmarcia@uol.com.br)

 

Representante no Núcleo de Cursos do Instituto Sedes
Márcia de Mello Franco

 

Representante na Comissão Mista de Cursos
Márcia de Mello Franco (mfmarcia@uol.com.br)



 


 

   
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