GRUPOS DE TRABALHO E PESQUISA

FACES DO TRAUMÁTICO


O grupo de trabalho e pesquisa Faces do traumático foi proposto por Myriam Uchitel em 2014, com o objetivo de aprofundar os estudos e conceitualizações a respeito do trauma. Desde o início esteve em nosso escopo a intervenção nos fenômenos traumáticos em suas múltiplas expressões.

 

Trauma é um conceito que atravessa toda a obra freudiana, e noções como excesso, trabalho psíquico, inscrição e marcas mnêmicas já estão nos primórdios da teoria. No entanto, é a partir da clínica com as neuroses de guerra que Freud construirá conceitos fundamentais para lidar com traumas que insistem em não se inscrever, diferentemente dos traumas ligados às pulsões sexuais. Conceitos como pulsão de morte, pulsões de  autoconservação, compulsão à repetição, a possibilidade ou não de inscrição no aparelho psíquico de determinadas experiências, o desmentido e a reparação, assim como os termos vítima e algoz, vergonha, humilhação, culpa, responsabilidade, transgeracionalidade e violência fazem parte constante da nossa pesquisa.

 

Entendemos que todo fenômeno traumático é tecido na complexidade da intersecção do mundo intrapsíquico dos sujeitos com o campo social. Assim, estudar e atuar com o traumático é superar dicotomias como o dentro e o fora, a fantasia e a realidade. Ao considerar todo trauma como social, entendemos que não há sujeito que não seja atravessado por marcas inquietantes e disruptivas frente a algumas vivências potencialmente traumáticas. Assim, vítima, perpetradores e testemunhas de um acontecimento violento são afetados e, em diferente medida, responsáveis no sentido do que farão com o que os atravessa.

 

No percurso desses últimos anos, o grupo intercalou o estudo de textos de autores clássicos da psicanálise (Freud, Ferenczi e, atualmente, Winnicott) com textos de autores contemporâneos e de outras áreas do saber, alguns filmes e diversos encontros com estudiosos da área que motivaram a reflexão sobre a intersecção do campo da psicanálise com os campos sócio-político, literário e do Direito. Como um dos resultados dessas trocas, e na contínua busca por interlocuções, na direção de trazer à tona o impensável do trauma, em abril de 2019 o grupo realizou o evento Testemunho e experiência traumática no Instituto Sedes Sapientiae, publicado em 2023 sob o mesmo título, pela editora Escuta.

 

Outro resultado do trabalho do grupo foi a criação, em 2018, do Projeto Clínica do Trauma, que funcionou até o início de 2023 na Clínica Psicológica do Instituto Sedes Sapientiae. Em termos gerais, o projeto se destinou a pensar e desenvolver modelos e ferramentas para compreender e intervir em catástrofes e traumas sociais, individuais ou coletivos, históricos ou cotidianos, que têm em comum consequências devastadoras sobre o aparelho psíquico e, como tal, desorganizadores do coletivo e do indivíduo. O projeto buscou conciliar o estudo e a discussão teórica com o desenvolvimento de modalidades de intervenção que atendam às especificidades das problemáticas do trauma. A partir do encontrado nesta clínica, o grupo realizou, em 2022, o evento online "Abuso sexual: um transtorno individual e social em nosso tempo", tema de saúde pública e analisador de uma sociedade abusiva.

 

Durante a pandemia, desenvolvemos vários projetos de atendimento grupal online com públicos diferentes: estudantes e supervisores de uma faculdade de medicina, lideranças comunitárias de povoados ribeirinhos da Amazônia, equipe de uma ONG, profissionais da saúde de um hospital estadual. Também compusemos o grupo de supervisores da equipe de psicólogos voluntários do projeto Rede de Apoio Psicológico, criado para o atendimento dos profissionais da saúde na linha de frente do combate à COVID-19. Ainda na esteira da pandemia, em parceria com a Unifesp, atendemos familiares enlutados, nas modalidades individual e grupal. Em 2021, iniciamos o Projeto Morada, em colaboração com a Defensoria Pública, encarando o desafio de escutar familiares de adolescentes mortos vítimas de violência policial.

 

O grupo apresentou-se no evento Entretantos de 2016, com o trabalho "Trauma como interrupção e ética psicanalítica como enlace". Em 2023, participamos do evento Entretantos Cá entre Nós com a coordenação das rodas de conversa "Uma reflexão sobre a intervenção em situações de elaboração de lutos de perdas por COVID, mediante dispositivo grupal" (também apresentado no congresso FLAPPSIP de 2023) e "Do trauma ao luto: relato de atendimento grupal e virtual a familiares de vítimas de violência policial" (2023).

 

Principais publicações

Grupo Faces do traumático (org.) Testemunho e experiência traumática. Trauma em tempos de catástrofe. São Paulo: Escuta, 2023.

 

Bleiger, G.; Figueiredo, M.; Lopes, C.; Steuer, F.; Tassinari, M. I.; Uchitel, M. "The Covid-19 pandemic: mourning in brazilian families". Couple and family psychoanalysis, v. 13 (1) 69-83, 2023.

 

Encontros

semanais presenciais intercalados com encontros remotos, às sextas-feiras, das 13h30 às 15h30.

 

Integrantes
Camila Munhoz, Clarissa Motta, Cristiane Lopes, Érica Otsubo, Flávia Vineyard Steuer, Flávio Veríssimo, Magali Pacheco Simões, Maria Angelina Cabral, Maria Carolina Cerqueira César Garcia, Maria Inês Tassinari, Marina Singer Figueiredo e Susan Sendyk.
 
Interlocutora
 

Articuladora da Área de Formação Contínua: Cristina Ribeiro Barczinski

 

Atividades Internas (Sala e datas das reuniões).



 


 

   
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