GRUPOS DE TRABALHO

PSICANÁLISE E LITERATURA: UMA APROXIMAÇÃO DE SABERES


A experiência da interdisciplinaridade evidencia pontos de aproximação entre os saberes envolvidos. Quanto à psicanálise, há várias áreas possíveis de interface como a filosofia, a sociologia, a antropologia, a linguística e, no que se refere ao interesse deste grupo de trabalho, com a literatura. De fato, a psicanálise pode ser preciosa na leitura de uma obra literária ao agregar aspectos que não seriam considerados por outras formas de abordagem, tendo o cuidado de não deslocar o literário para um plano secundário.

 

A importância dada por Freud à literatura é evidente em seus textos. Um dos pilares da psicanálise vem da história de Édipo. Em sua Autobiografia, ele diz que o que o moveu à medicina foi a ânsia do saber articulada com a arte da leitura. Em Delírios e sonhos na Gradiva de Jensen, essa perspectiva lá está quando ele propõe que escritores criativos são aliados valiosos pois conhecem uma vasta gama de coisas entre o céu e a terra com as quais a nossa filosofia ainda não nos deixou sonhar, em alusão ao Hamlet shakespeariano. Nos casos clínicos em Estudos sobre a histeria há narrativas que poderiam ter correlatos com a literatura de Flaubert. O sujeito de Luto e melancolia pode apontar para Goethe em seu romance sobre o jovem Werther. Em Introdução ao narcisismo, há proposições que serviriam para a composição do protagonista em Morte em Veneza, de Thomas Mann. O Caso Schreber foi escrito por Freud a partir do texto literário Memórias de um doente dos nervos. Hamlet é citado por Freud em O inquietante, O Moisés de Michelangelo, Luto e melancolia, Delírios e sonhos na Gradiva e A interpretação dos sonhos. E, ainda, em Dostoievski e o parricídio, Freud afirma que dificilmente pode-se atribuir ao acaso que três das obras-primas da literatura tratem, todas, do parricídio e da rivalidade sexual por uma mulher: Édipo Rei, Hamlet e Os irmãos Karamazov.

 

O texto literário não se limita a um trabalho meramente intelectual buscando rimas ou métricas. Trata-se de uma produção que traz uma marca pulsional. Assim, a sintaxe que constrói o texto literário se alimenta de um outro léxico, tributário do Inconsciente e que se articula com a linguagem dos afetos. Literatura e psicanálise são atos criativos que, pela fantasia, buscam dar voz ao indizível. No discurso dos pacientes assim como em fragmentos literários residem preciosidades que condensam imagens, como metáforas, ou elegem alegorias pelas quais deslizam, como metonímias. Somos submetidos às leis da linguagem. Nos parágrafos literários há enunciações que sustentam os enunciados manifestos dos autores. O mesmo se passa com os pacientes quando narram, para seus analistas, suas histórias de sofrimento.

 

O grupo de trabalho e pesquisa Psicanálise e literatura: uma aproximação de saberes teve início em abril de 2023, a fim de sustentar um espaço permanente de leitura no qual os interessados se reúnam não apenas para o diálogo, mas também para o desenvolvimento de alguma produção no âmbito da aproximação entre esses dois saberes.

 

O grupo é horizontal.

 

Encontros

mensais remotos, às primeiras sextas-feiras de cada mês, das 17h30 às 19h00.

 

Integrantes

André Bizzi, Anna Helena Haddad, Cristiane Lopes, José Luiz Tavares, Leonardo Tunoda e Victoria Bragante.

 

Interlocutor

José Luiz Tavares (jltavares2016@gmail.com)

 

Articuladora da Área de Formação Contínua: Cristina Ribeiro Barczinski


 


 

   
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